No final da manhã da terça-feira 21, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) chamou o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para uma sugestiva conversa em seu gabinete. Durante meia hora, tentou convencer Renan a entrar no páreo pela presidência do Senado com o argumento de que seu nome seria aceito por toda a base governista. A picada da mosca azul aparentemente não fez efeito no senador alagoano. Horas depois, Renan relatou a conversa à cúpula do PMDB e reafirmou seu apoio à candidatura do colega Jader Barbalho (PA).

Depois de duas semanas fora de Brasília, Sarney voltou à capital com disposição de embaralhar o jogo no Congresso, num script acertado com o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). O troco não demorou. Na manhã seguinte, o PMDB acabou com a festa de lançamento da candidatura do deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE) à presidência da Câmara: por telefone, o líder peemedebista Geddel Vieira Lima (BA) informou ao deputado tucano Aécio Neves (MG) que o partido topava a dobradinha com o PSDB para derrotar o PFL nas duas casas do Congresso.

Surpreendido com o contra-golpe, ACM disparou telefonemas a senadores e governadores tucanos numa tentativa de rachar o PSDB. Não teve êxito. Mesmo tendo causado o adiamento de uma reunião da bancada tucana no Senado, o cacique baiano não conseguiu melar o acordo. Ao mesmo tempo que fortalece a candidatura de Jader no Senado, a aliança praticamente enterra as esperanças de Inocêncio de voltar ao comando da Câmara. “Estou decepcionado com o presidente Fernando Henrique. Eu não merecia receber esse tipo de tratamento”, choramingou Inocêncio. O desabafo teve endereço errado. O próprio PFL reconhece que ACM será o principal responsável pela eventual derrota na Câmara.

Com sua obstinação em impedir que Jader seja seu sucessor, Antônio Carlos não teve o menor constrangimento em sacrificar o correligionário pernambucano. Embora critiquem o comportamento de ACM, até agora os pefelistas não tiveram coragem de enquadrá-lo. Avaliam como suicida a estratégia partidária de impor um nome na Câmara e ter poder de veto no Senado. Pior: essa dupla exigência isola o PFL na aliança governista e também serve de pretexto para FHC ficar de fora do imbróglio.

A esperança dos pefelistas era de que, mais uma vez, Fernando Henrique forçasse os tucanos a sair do páreo pelo comando da Câmara. Aécio jura que não há hipótese de abrir mão para o PFL. “Não desisto nem se o presidente me pedir. Não acredito que isso vá ocorrer, mas se acontecer, digo não e ganho ainda mais fácil porque viro um herói na Câmara”, assegura Aécio. Tudo isso tem um custo: nesse clima de guerra, nada de importante será votado no Congresso. Como estão na pauta matérias importantes como o Orçamento da União para 2001, é muito provável que não haja recesso parlamentar e deputados e senadores embolsem um dinheiro extra ficando em Brasília durante as férias de janeiro. Isso abre espaço para novos rounds na brigalhada que promete se estender até a eleição das Mesas da Câmara e do Senado no dia 1º de fevereiro. A situação dos partidos governistas pode ser traduzida pelo velho ditado: “Em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão.”