Para os americanos a semana que antecedeu o seu dia de Ação de Graças foi de momentos dramáticos e reviravoltas capazes de provocar ataques cardíacos. Na quarta-feira, 22, a Suprema Corte do Estado da Flórida deu vitória às pretensões do candidato democrata à presidência, Al Gore Jr., e apoiou as recontagens manuais de três condados, além de adiar a data máxima para que os resultados sejam confirmados. A oficialização poderá ir além do dia 27. Numa decisão histórica – e já contestada pelos republicanos do candidato George W. Bush –, a Corte determinou que a secretária de Estado Katherine Harris deveria esperar e aceitar as novas contagens para oficializar a declaração de um vencedor das eleições presidenciais no Estado. Quem obtiver maioria dos votos locais leva os 25 delegados no Colégio Eleitoral do país e, com isso, ganhará as chaves da Casa Branca. O baque da derrota no tribunal foi demais para o candidato republicano à vice-presidência, Dick Cheney, que sofreu um infarto, horas depois. No dia 22, seria a vez dos democratas experimentarem palpitações desconfortáveis. O condado de Miami-Dade – o maior do Estado e repleto de votos democratas que não foram computados pelas máquinas – resolveu suspender sua recontagem manual. Com isso, dificilmente Gore conseguirá os votos suficientes para suplantar a diferença de 930 que Bush tem a seu favor. E quando o tradicional peru do Thanksgiving Day foi servido na mesa dos americanos na quinta-feira 23, havia a esperança de que a bênção do feriado fosse conhecer a identidade do 43º presidente dos Estados Unidos antes do Natal. Até lá, porém, manobras jurídicas estão sendo planejadas e ameaçadas por ambos os lados. Bush, apesar de aliviado com a saída dos votos de Miami da equação, preparava a ida à Suprema Corte dos Estados Unidos para tentar anular a decisão da Suprema Corte da Flórida. “Trata-se de uma alternativa com pouquíssimas chances de sucesso.

AP
AL GORE Derrota na Corte da Flórida

A Suprema Corte não gosta de se manifestar em questões como esta, impondo sua opinião num caso tipicamente do âmbito estadual”, disse a ISTOÉ o professor Richard Pildes, da faculdade de Direito da New York University. Enquanto isso, o batalhão de advogados de Gore tentava na Suprema Corte da Flórida uma injunção de urgência para obrigar a comissão eleitoral local a voltar a recontagem manual. A Suprema Corte da Flórida, porém, apoiou a decisão do comitê eleitoral. O motivo dado para a interrupção dos trabalhos foi a impossibilidade de se contar, no prazo estipulado, os 10 mil sufrágios – a maioria com intenções de voto difíceis de serem interpretadas, devido a falhas nas perfurações. Até a parada, quando já se havia contado cerca de 10 do total, Gore havia amealhado 154 votos a mais. “Ele esperava ganhar algo em torno de 300 ou 400 votos para somar aos outros conseguidos em West Palm Beach e no condado de Broward. Só assim passaria os números de Bush e teria margem de erro. Imagina-se agora que sem Miami os democratas só atinjam um patamar de cerca de 700 votos. Insuficientes para carregar os delegados do Colégio Eleitoral”, diz Richard Thorbuch, ex-ministro da Justiça que faz parte do time de advogados republicanos. Se ele estiver correto, George W. Bush já estaria vendo a luz no fim do túnel e com ela a Casa Branca.


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