O desabafo do vice-presidente Michel Temer, feito na última quarta-feira, ao dizer que “é preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar a todos”, pode ser lido de duas formas. Para o vice, a leitura mais conveniente é de que a mensagem foi encaminhada ao Congresso Nacional, que, nos últimos meses, tem sabotado o País com sua “pauta-bomba”, repleta de medidas irresponsáveis e de aumentos de gastos públicos. No entanto, a segunda leitura é de que o recado foi enviado para a sociedade como um todo. Ao propor o surgimento de um pacificador, Temer praticamente se colocou na pista e só faltou dizer “mesmo que seja eu”, como na canção de Erasmo Carlos.

Um dia depois, Temer recebeu apoios de duas importantes lideranças empresariais: os presidentes da Fiesp, Paulo Skaf, e da Firjan, Eduardo Eugênio Gouveia Vieira. “A indústria brasileira se associa ao apelo de união para que o bom senso, o equilíbrio e o espírito público prevaleçam no Brasil”, disseram os empresários. No momento em que o Datafolha retratou o governo Dilma no seu ponto mais baixo de aprovação popular, os movimentos de Temer, notório por seu perfil moderado e conciliador, precisam ser lidos com especial atenção – até porque interessam cada vez mais a determinados setores da oposição.

No PSDB, o principal interessado na ascensão de Temer é o senador José Serra (PSDB-SP). Eterno candidato à Presidência da República, Serra gostaria de ser, para Temer, o que o também tucano Fernando Henrique Cardoso foi para Itamar Franco. Como ministro da Fazenda de um eventual governo de transição, Serra se credenciaria para concorrer ao Palácio do Planalto em 2018, pelo PSDB ou até pelo PMDB.

No entanto, entre os tucanos, não há unidade. De um lado, parlamentares aecistas, como o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Carlos Sampaio (PSDB-SP), pregam a realização de novas eleições e clamam até para que os protestos previstos para 16 de agosto levantem esta bandeira. De outro, governadores que são potenciais presidenciáveis, como o paulista Geraldo Alckmin e o goiano Marconi Perillo, defendem que o quadro atual se arraste até 2018, com o desgate do PT, do governo Dilma e do ex-presidente Lula.

Nos momentos mais agudos da crise política, Temer se movimentou com cautela e sempre se prestou a um papel colaborativo, ao assumir até a delicada missão de articulador político de um governo cuja base de apoio se esfacela em praça pública. No entanto, ao falar em “reunificação”, ele cruzou a linha da prudência.