O governo Dilma Rousseff tem certamente muitos defeitos, mas um deles se tornou mais evidente nos últimos meses: a incapacidade de dar um exemplo positivo para a nação. Mesmo diante do brutal aperto econômico imposto aos brasileiros, Dilma foi insensível no momento de fazer a sua parte. Enquanto empresários cortavam custos e cidadãos fechavam a carteira, o governo engordou, sem qualquer constrangimento, a já inchada máquina pública. Só na gestão Dilma, 953 novos cargos políticos foram criados. Desde que o PT assumiu o governo, em 2003, o número de postos de indicação política saltou de 18.374 para 22.820. O aporte de pessoal não se traduziu na melhoria dos serviços públicos ou na redução das amarras burocráticas. O efeito foi exatamente o oposto – serviços cada vez mais ineficientes e prejudicados por uma burocracia sem fim. Na semana passada, a presidente finalmente sinalizou a possibilidade de cortar ministérios. Hoje, são 39, maior número na história da República. Poderia – e deveria – ter feito isso antes, quando a situação econômica começou a se agravar.

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Esplanada dos Ministérios: pelo novo plano, pelo menos 10 pastas seriam extintas

Uma das recomendações do plano apresentado à presidente por especialistas em administração pública é incorporar as 10 secretarias com status de ministérios às suas áreas correspondentes. A medida eliminaria centenas de cargos de chefia e, consequentemente, gastos com folha de pessoal. O estudo, engavetado por Dilma há pelo menos três meses, prega também a fusão de ministérios que estão constantemente compartilhando funções. Estima-se que as medidas eliminaram 4 mil cargos comissionados sem afetar o funcionamento dos serviços públicos.

Dilma enfrenta fortes objeções ao projeto. É que seu partido, o PT, vive às custas da farta distribuição de cargos. O loteamento de postos de trabalho entre petistas rende à sigla R$ 7 milhões anuais, já que os indicados políticos são obrigados a repassar até 14% do salário recebido no serviço público. “A causa principal dos escândalos de corrupção é esse modelo promíscuo que tem origem em um balcão de negócios de cargos”, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

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Segundo o estudo entregue ao Planalto, na lista de ministérios que não precisavam existir está o da Pesca. Atualmente, a pasta abriga o peemedebista Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Muitas vezes, sua atuação se choca com atribuições do Ibama, o que não faz o menor sentido. Pelo novo desenho ministerial, a área de infraestrutura também seria afetada, com a junção de atividades correlatas dentro de um único ministério, o de Transportes. Assim, a Secretaria de Portos e Aviação Civil passariam a integrar a mesma estrutura ministerial. Dentro do governo, a voz que tem defendido sistematicamente a redução de cargos públicos é a do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O problema é que Levy tem sido uma voz solitária.

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Foto: ROBERTO CASTRO; Ailton de Freitas / Agência O Globo 


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