Sob o peso do desemprego, da globalização excludente e da desigualdade, a sociedade brasileira reage. Não se trata propriamente de um contra-ataque, mas de um gesto de resistência. Solidariedade é o impulso que move hoje nada menos do que 30 milhões de brasileiros, como conta a reportagem da pág. 60, assinada pela repórter Marina Caruso. Jovens como ela compõem boa parte desse exército de ajuda ao próximo, entrincheirado em bairros pobres, escolas, igrejas, hospitais e asilos. Não há limite de idade nem de condição social para se alistar nessas brigadas. Estrelas do futebol, professores, executivos, alunos do ensino médio e donas-de-casa estão engajados em trabalhos voluntários, num conjunto que já representa 23% da população. O professor aposentado Ronaldo Archer, 60 anos, ensina física para cegos no Clube do Ledor da Associação de Amigos do Deficiente Visual, em Brasília, duas vezes por semana (foto ao lado). O estudante Diogo Youssef, 18 anos, dedica quatro horas diárias às crianças do Centro Educacional Girassol, em São Paulo. Como Ronaldo e Diogo, um em cada cinco habitantes do País faz trabalho não remunerado. Mais importante do que o risco de se resumir ao assistencialismo, o trabalho voluntário, ao se generalizar, talvez indique uma busca, pela sociedade, dos seus elos fundamentais.