Você está prestes a fazer o vestibular e, alguns dias antes de encarar a prova de fogo, decide varar as madrugadas estudando. Se fez essa opção, mude de tática rapidinho. Seu esforço está sendo em vão. No dia seguinte, o resultado pode ser aquela terrível sensação de branco na mente. Uma das razões para isso é a privação do sono. A ciência já tinha fortes evidências desse efeito. Na semana passada, dois estudos apresentados pela revista inglesa Nature Neuroscience confirmaram a tese. “Quando uma pessoa fica sem dormir, não consegue gravar na memória o que aprendeu ao longo do dia”, justifica um dos pesquisadores, o neurologista Robert Stickgold, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Para chegar a essa conclusão, Stickgold aplicou um teste, que consistia em identificar e diferenciar algumas figuras geométricas, a 86 estudantes com idade entre 18 e 25 anos. Metade deles dormiu depois da aula e a outra ficou acordada. Dois dias depois, o grupo realizou a prova. Resultado: quem pegou no sono foi bem melhor no exercício. Por enquanto, o cientista não sabe explicar com exatidão qual é a relação entre o sono e a memória. “Suspeitamos que é importante o cérebro estar desconectado da realidade para os ensinamentos se fixarem na memória”, afirma Stickgold.

Para que as lembranças fiquem guardadas na mente, o ideal é dormir por, no mínimo, sete horas. Isso porque o processo de consolidação da memória se dá nos estágios REM (rapid eye moviment ou movimento rápido dos olhos). Ou seja, no momento dos sonhos. Essa fase acontece após o período de sono profundo, dura cerca de 90 minutos e se repete quatro a cinco vezes por noite. “Logo que aprendemos algo novo, essa informação fica guardada numa “gaveta” do cérebro que funciona como uma memória transitória”, explica o neurologista Rubens Reimão, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Durante o REM, esse arquivo é transferido para uma “gaveta” maior, que pode ser chamada de memória permanente. É como se algum dado arquivado num disquete necessitasse ser transferido para o disco rígido, a estrutura que armazena todas as informações do computador. Não dormir seria o equivalente na máquina a “dar pau” durante essa transferência. “Por isso, muitas vezes os estudantes que passam a noite em claro conseguem se lembrar de algumas informações por pouco tempo e logo depois se esquecem delas”, diz Geraldo Rizzo, neurologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS).

A pesquisadora Steffen Gais, da Universidade de Lubeck, na Alemanha, concorda com essa tese. Ela avaliou 15 pacientes entre 19 e 35 anos. Os voluntários também toparam o desafio de identificar gravuras. Uma parte fez o exercício após dormir três horas e a outra, depois de descansar a noite inteira, percorrendo todas as fases do estágio REM. O grupo que repousou por pouco tempo teve um bom resultado. Mas quem dormiu a noite toda – cerca de sete horas – tirou nota dez. “Quanto mais tempo de sono, maior o aprendizado”, conclui Steffen. Por esses motivos, os especialistas recomendam aos vestibulandos não desperdiçar noites em claro. Na hora H, esses candidatos só conseguirão se lembrar da famosa frase: deu branco.