A ilha de Fidel Castro ficou mais vermelha nos últimos dias. Depois de resistir por quatro décadas ao poderoso vizinho americano, Cuba acabou sendo invadida por um batalhão de 203 filiados e simpatizantes do PT, sob o comando da maior estrela do partido, Luiz Inácio Lula da Silva. Vizinha à Disneylândia, Havana se transformou no parque de diversões dos petistas. Um Magic Kingdon engajado: não havia parada com Mickey Mouse nem espaço para o capitalista Tio Patinhas. Os personagens idolatrados dos turistas “rojos” (vermelhos) são politizados, barbudos e românticos, como os guerrilheiros-galãs Che Guevara e Camilo Cienfuegos. Eles não perderam a ternura. As imagens espalhadas por toda a ilha arrancavam suspiros das mulheres da excursão. Para espanto dos cubanos, os brasileiros se transformaram em verdadeiros clones de Che. Até mesmo a ala feminina não abriu mão de circular pelas ruas, usando boinas pretas vendidas a US$ 3 cada uma.

De presidente do Banco Nacional nos primeiros anos da revolução, “el Che” passou a ser hoje um dos produtos mais lucrativos da indústria turística, principal fonte de receita de Cuba. Sua imagem está estampada em camisetas, broches, chaveiros, cartões, calendários e agendas. O filósofo Jean-Paul Sartre o definiu como o ser humano mais completo de nossa era. As mulheres da excursão que o digam! A mineira Ana Lúcia Fragosa, que é filiada ao PT, adotou o modelito Sierra Maestra: boina e calça verde-oliva. “Nem acredito que estou em Cuba.” O publicitário Rodrigo Castellari, resumiu: “Che é um ícone pop”. Um dos mais folclóricos do grupo era o sergipano Ivaldo de Souza, o Maranhão. Ele fazia questão de ficar parecido com Che. “Visitar Cuba com Lula é um sonho duplo.” O clima era de festa e política. Os mineiros que também incorporaram o guerrilheiro no modo de vestir foram logo apelidados de Etche de Varginha.

Cuba continua socialista, mas adotou expedientes capitalistas para aliviar o sufoco financeiro provocado pelo embargo promovido pelos EUA. Hoje, só o turismo salva. A excursão tinha uma programação engajada. Acompanhada de Lula, visitou uma escola, centros de formação de esportistas, de médicos de família, biblioteca e ainda assistiu a uma palestra sobre economia. O grupo conheceu ainda os dois lados da moeda: o investimento no social e as mazelas, como a prostituição e as dificuldades financeiras, que atingiram o país desde a queda do Muro de Berlim. Ex-diretora de uma imobiliária, Tânia Galvão conheceu Cuba em 1989, quando o turismo ainda era desprezado. “Não reclamo dos preços altos, porque sei que eles se sacrificam para oferecer o melhor. O que mais me impressionou é o orgulho que eles têm do país”, comentou. A excursão contou com outras estrelas: Magic Paula, do basquete, o ex-jogador Sócrates e o jurista Márcio Thomaz Bastos. “Apesar de todos os problemas, o povo está alimentado. Nós temos milhões de miseráveis”, observou Sócrates.

O desembarque na ilha, sábado 25, foi em Varadero, a Miami cubana. Lá, os petistas estavam distantes da dura realidade do país. O tempo foi dedicado a passeios de barco, compra de artesanatos e muita salsa regada com mojito, bebida típica feita com rum, açúcar, água com gás e folhas de hortelã frescas. Os charutos, paixão de Bill Clinton que quase lhe custou o mandato, fizeram muito sucesso. O turismo político começou na capital, onde o grupo ficou até quinta-feira 30. Petista que é petista não deixa de ir a manifestações, mesmo em férias. Em Havana, foram à Tribuna Antiimperialista José Martí, onde 100 mil pessoas se reuniram para lembrar a morte de oito estudantes, há 129 anos, durante a luta dos cubanos contra os espanhóis. “Fiquei na primeira fila”, contou a empresária Stela Regina, que, exceto os seis sorteados numa rifa do PT para a viagem, desembolsou US$ 1.010 pelo pacote.

O guia oficial da turma teve tratamento privilegiado. Lula recebeu de presente uma caixa de charutos Cohiba do Partido Comunista Cubano e se encontrou com o presidente Fidel Castro todos os dias. As conversas varavam madrugadas. O ponto alto da excursão foi na quinta, quando os turistas petistas foram recepcionados no Palácio da Revolução por Fidel, que ofereceu um sofisticado banquete que nada lembrava a crise do país: tinha uísque, vinho, lagosta e camarão. Afinal, ninguém é de ferro.