No calendário do sindicalismo brasileiro, os meses de outubro e novembro são considerados alta temporada. É a hora de as categorias mais bem organizadas – metalúrgicos, químicos, bancários e petroleiros à frente – sentarem-se com os patrões para negociar. Também é o momento de barganhar espaço no Orçamento da União do ano seguinte e assim garantir recursos que permitam aumentar o salário mínimo. Em ambos os casos, as duas principais centrais de sindicatos do País – a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical – apostaram suas fichas em campanhas unificadas. O resultado, avaliam os especialistas, não foi formidável, mas além do esperado.

No caso do mínimo, a novela em torno do valor que substituirá os atuais R$ 151 teve alguns lances emocionantes durante a semana passada. Os parlamentares da base governista ameaçaram pular fora do acordo que havia sido fechado. E isso porque teriam de abrir mão de emendas que incham os gastos públicos para bancar o aumento. Ao final, o presidente Fernando Henrique Cardoso garantiu que o mínimo irá mesmo para R$ 180, desde que o Congresso vote alguns projetos que combatam a sonegação e, portanto, permitam elevar a arrecadação. Com isso, as emendas poderiam permanecer no Orçamento.

Já o saldo das campanhas salariais negociadas com o empresariado foi bastante positivo em relação às negociações anteriores. Durante toda a década de 90 praticamente, essas conversas resultaram, quase sempre, em péssimas notícias para os trabalhadores: demissões, reajustes abaixo da inflação e acordos que colocaram no freezer conquistas de campanhas passadas. A abertura da economia às exportações, o crescimento medíocre da economia, as fusões e aquisições de empresas nacionais importantes e os investimentos em novas tecnologias aumentaram o desemprego e jogaram os sindicatos contra as cordas do ringue. Desde meados do primeiro semestre, no entanto, o reaquecimento da economia inflamou as centrais. CUT e Força Sindical foram à luta por aumentos reais de salários, não se limitando apenas à reposição da inflação passada ou à manutenção dos empregos. Partiram para a mesa de negociações ameaçando convocar uma greve geral e reivindicando um reajuste de 20% – metade disso para recompor o poder de compra dos salários e a outra metade a título de participação nos lucros. Em vez dos 20% que queriam, a maioria dos trabalhadores teve de se contentar com reajustes próximos de 7,5% (leia quadro), acima da inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), de 6,15% acumulada desde o reajuste do ano passado, mas inferior ao índice de preços do Dieese, que ficou em 9,21% no período.