De nada valeram as ameaças, chantagens e lobbies da bandidagem do Espírito Santo. A CPI do Narcotráfico elaborou um relatório que condena o presidente da Assembléia Legislativa capixaba, deputado José Carlos Gratz (PFL) e a turma do ex-ministro da Defesa Élcio Álvares por envolvimento com o crime organizado no Estado. Junto com eles, dezenas de políticos, juízes, policiais, empresários e advogados do Espírito Santo também caíram na rede da comissão. Ao comprovar denúncias publicadas por ISTOÉ, a CPI resolveu indiciar Gratz e o advogado Dório Antunes, irmão e parceiro de Solange Antunes, a amiga, sócia e ex-superassessora do ministro. De nada valeu o esforço de Élcio para tentar livrar da rede da CPI a sua sócia, acionando ex-colegas do Senado e do PFL. A Comissão decidiu recomendar ao Ministério Público que investigue Solange e providencie a quebra de seu sigilo bancário, fiscal e telefônico. Também foi fisgado o desembargador aposentado Geraldo Correia Lima, ex-sócio de Élcio Álvares. Ele é um dos 11 desembargadores e juízes capixabas que, a pedido da CPI, serão investigados pela Corregedoria-Geral do Superior Tribunal de Justiça.

Élcio e Gratz fizeram tentativas desesperadas para mudar o relatório final da CPI do Narcotráfico. A dupla pagou um mico na sexta-feira 24 durante a rápida visita do presidente Fernando Henrique Cardoso a Vitória. Queriam ser fotografados ao lado de FHC, mas foram impedidos pela segurança do Palácio do Planalto. O presidente cancelou uma cerimônia no Palácio Anchieta e um jantar com empresários para evitar o constrangimento de um encontro com Élcio e Gratz. Sem a cobertura presidencial, Gratz ameaçou divulgar um dossiê contra o presidente da Comissão, deputado Magno Malta (PFL-ES), e um vídeo que comprometeria o relator Moroni Torgan (PFL-CE). Não deu certo. Como também fracassou o jogo do deputado Augusto Farias (PPB-AL) – irmão do falecido PC Farias, ex-tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor. No melhor estilo Gratz, quando a CPI foi a Maceió, Augusto ameaçou revelar quais membros da comissão receberam dinheiro de PC para bancar suas campanhas eleitorais. Um deles seria o subrelator da CPI em Alagoas, o deputado Robson Tuma (PFL-SP). Augusto foi indiciado pela Comissão do Narcotráfico por uma penca de acusações que podem resultar na cassação de seu mandato parlamentar: envolvimento com a quadrilha da qual faziam parte o ex-deputado Hildebrando Pascoal e o advogado William Sozza e movimentação financeira superior aos rendimentos declarados à Receita. Além disso, ele também está na mira da Justiça alagoana pela acusação de ter tramado o assassinato do irmão PC Farias. Quem também foi indiciado pela CPI foi o legista Badan Palhares, acusado de falsificar laudos para favorecer o crime organizado, inclusive no caso da morte de PC Farias. 

Reação em cadeia

A gravação de uma conversa entre o traficante Fernandinho Beira-Mar e o ex-juiz classista do Rio Milton Calheiros, revelada por ISTOÉ na última semana, provocou diversas reações. A mais espalhafatosa partiu do secretário de Segurança do Rio e da Associação Rio Contra o Crime, uma organização não governamental (ONG). Na quarta-feira 29, o secretário de Segurança, coronel Josias Quintal, anunciou uma recompensa de R$ 100 mil para quem der à polícia informações que levem à prisão do traficante foragido desde 1997. O secretário e o governador, no entanto, nada disseram sobre o teor das revelações feitas por Beira-Mar. Na conversa com o ex-juiz e em depoimento secreto à CPI do Narcotráfico – também divulgado na última edição de ISTOÉ –, o traficante diz ter pago mais de US$ 500 mil a policiais para que suas irmãs não fossem presas. O pagamento da recompensa será feito pela Associação Rio Contra o Crime, ONG criada por empresários em outubro de 1995, com o objetivo de arrecadar recursos para o Disque-Denúncia, serviço que mantém em parceria com o governo do Estado. A decisão de acenar com uma recompensa milionária foi tomada um dia depois de o diretor jurídico da ONG, o advogado Wanderley Rebello, renunciar. A reportagem da última edição de ISTOÉ divulgou que Rebello teria recebido R$ 60 mil para defender as irmãs de Beira-Mar. O dinheiro teria sido repassado ao advogado pelo ex-juiz Calheiros. “Renunciei para dar uma satisfação à opinião pública”, disse Rebello. O Ministério Público do Rio de Janeiro, que conhecia o diálogo de Beira-Mar com o juiz Calheiros desde maio, também resolveu se mexer. A investigação estava parada há seis meses porque o ex-juiz não fora localizado. Na terça-feira 28, a promotora Márcia Velasco localizou Calheiros em Manaus (AM). “Agora temos elementos suficientes para que a apuração sobre as relações desse ex-juiz com o traficante e suposta corrupção envolvendo o Poder Judiciário seja concluída”, disse Márcia Velasco.