A chance de um associado do plano de saúde Unimed São Paulo adivinhar em qual dos hospitais do convênio conseguirá ser atendido é de uma em quatro. A situação se repete nos laboratórios que constavam no contrato de adesão. Em cada cinco portas, encontra duas fechadas. Conseguir um médico no interior, também ficou difícil. E o uso das clínicas credenciadas na Grande São Paulo foi reduzido a 73% do total a que ele teria direito. A quantidade de problemas da cooperativa não pára por aí. Há uma dívida de R$ 148,5 milhões e um patrimônio que talvez chegue a R$ 123 milhões. A Agência Nacional de Saúde informou que vê o cenário “com preocupação”. O usuário, porém, encara a situação com medo, à espera de uma solução que, pelo andar da carruagem, não deve ser imediata.

Na quarta-feira 29, o presidente da Unimed São Paulo, Edmundo de Castilho, reuniu entidades médicas e anunciou o que pretende fazer. Para ele, a solução da crise está numa vaquinha a ser feita entre seus 2.400 médicos cooperados, que emprestariam, cada um, R$ 10 mil para juntar R$ 24 milhões. O dinheiro pagaria parte das dívidas nos hospitais e laboratórios. A proposta, contudo, já foi feita, sem sucesso, numa tumultuada assembléia cinco dias antes. Além de não concordar, a maioria dos 600 médicos presentes pediu a saída imediata de Castilho. “A maior parte dos cooperados não estava lá e agora eles vão mudar de idéia”, afirma o presidente. Castilho está contando ainda com a liberação de um depósito judicial e venda de parte do patrimônio. “Estamos rezando para que dê certo”, acrescenta. A técnica do Procon Hilda Araújo explica que oração não é suficiente. Até que se resolva o impasse, o consumidor deve ter acesso a todos os serviços do contrato. “Não se trata de um produto em que se possa mudar o fornecedor sem prejuízos. Entrar num novo plano implica cumprir carência, por exemplo”, diz técnica. Parte dos prejudicados com a crise vem da Usimed, com “s” – uma cooperativa formada por pessoas físicas clientes da Unimed São Paulo, que representam cerca de 10% do total da carteira do plano. A diretora Adriana Noschese conta que, além de sofrer por tabela a recusa nos hospitais da capital, a Usimed também está sendo discriminada pelas cooperativas médicas que antes garantiam o atendimento no interior do Estado. Embora adote o mesmo nome, o grupo do interior, Confederação Estadual das Unimeds, pertence a uma corrente política diferente – Aliança Nacional. A Unimed São Paulo, por sua vez, se vincula à Unimed do Brasil. Há três meses, a Confederação afastou a Unimed São Paulo, justificando descumprimento do estatuto. Para complicar ainda mais “o convênio do crioulo doido”, a Unimed São Paulo tem uma concorrente da facção rival disputando clientes na capital, sua área de atuação. Trata-se da Unimed Paulistana, cujas finanças vão bem, mas que por conta das dívidas da prima-pobre vem sendo confundida pelo consumidor. Com tudo isso, nem a Paulistana nem as demais Unimeds do grupo Aliança Nacional fazem valer a palavra cooperação na hora de oferecer atendimento sem custos aos usuários da concorrente. Ambas avisam que estão abertas para esse público, desde que eles não vinculem o pagamento à Unimed São Paulo.