Foi um nó tático que deixou o ex-técnico da Seleção Brasileira Wanderley Luxemburgo mais enrolado do que após a surra de 3 a 0 aplicada pelo Chile ao Brasil nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Confrontado com extratos bancários e levantamento de contas correntes, que mostravam R$ 18 milhões em depósitos em seu nome desde 1995, Wanderley tentou reagir às acusações da CPI do Futebol apresentando suas declarações de Imposto de Renda. Foi pior. O ex-técnico da seleção informou ao Leão (ou melhor, à Receita Federal) apenas R$ 8 milhões, ficando sem explicações nada menos que R$ 10 milhões. “É uma fortuna que praticamente quase ninguém no País vai um dia juntar. E o senhor continua sem saber como ganhou esse dinheiro?”, atacou, no final da maratona de seis horas de depoimento, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), presidente da CPI. No fim do segundo tempo, Wanderley fez o que seria, no futebol, um pênalti escandaloso: “O dinheiro pode ter vindo de uns negócios que fiz”, justificou. Um desses “negócios” teria rendido ao técnico um depósito de R$ 4,6 milhões em dinheiro.

Mas Wanderley não se enrolou apenas com as suas contas. A venda de apartamento em São Conrado a uma empresa com sede nas Bahamas – paraíso fiscal – por R$ 600 mil, denunciada à CPI, ficou sem justificativa. Segundo o Banco Central, a empresa fez apenas um único negócio no país, exatamente a compra do apartamento do técnico. Wanderley não soube explicar a transação, como tudo o mais em seu depoimento. Alegou ser muito desorganizado com dinheiro e investimentos. Até um ex-advogado do técnico contribuiu para piorar a sua situação. Artur Eugênio Matias, que o defendeu em um processo de assédio sexual, terminou preso pela CPI do Narcotráfico. “Quem me indicou o dr. Artur foi o Nenê Zini, filho de Beto Zini, ex-presidente do Guarani. Nunca me envolvi com drogas”, afirmou.

Mas o pior para Wanderley veio com a descoberta de uma conta bancária em Miami em nome de sua mulher, Josefa Costa Santos Luxemburgo, com depósitos vultosos. Espantado, Wanderley fez ar de marido traído. “Nunca soube dessa conta. Só se minha mulher abriu por conta própria. Vou ter que perguntar a ela”, assegurou, para espanto dos senadores. “Se eu fosse a mulher dele, pediria divórcio depois dessas declarações”, ironizou o relator da CPI, Geraldo Althoff (PFL-SC). Diante da contradição entre as acusações de Renata Alves, ex-amante e secretária de Wanderley, e a defesa do técnico, que acusou Renata de tê-lo chantageado, será imprescindível uma acareação na CPI. “Ela garante que Luxemburgo recebia dinheiro de empresários e ele nega. Vamos ver quem está mentindo”, afirmou Álvaro Dias. A peleja de Wanderley caminha para a prorrogação, com direito a morte súbita ou, com mais sorte, disputa de pênaltis.