Nada de olhar sedutor, sorriso perfeito e corpo cheio de curvas emoldurado por roupas sensuais. A atual sensação nas tevês hispânicas é uma moça feíssima, com um par de óculos fundo de garrafa e um horrendo aparelho nos dentes. Para completar o susto, usa uma franja bizarra e figurinos para lá de ultrapassados. Seu nome é Beatriz Pinzón, ou simplesmente Betty, a feia. Betty é protagonista da novela colombiana Yo soy Betty, la fea, produzida pela emissora RCN, que começou a exibi-la em outubro do ano passado. A novela é o que se pode chamar de fenômeno. Além da Colômbia, é exibida nos Estados Unidos, Chile, Argentina, Bolívia e Equador, entre outros países. No momento, é a maior audiência do Canal 13, do Chile, e do Telemundo, canal americano voltado para o público latino. Mas o melhor deste frenesi é que, numa estratégia de marketing contra o SBT – que costuma arrebanhar ótimas audiências com novelas enlatadas do gênero –, a Rede Globo, sentindo o cheiro do sucesso, numa ação inesperada apressou-se em comprar Yo soy Betty, la fea por apenas US$ 100 mil, preço aproximado de um capítulo do folhetim das oito.

No entanto, a operação da Globo – que desde a década de 60 não negociava uma novela estrangeira – não dará chance aos brasileiros de conhecer a saga da economista desprovida de beleza, que conquista o coração do dono da empresa onde trabalha graças à sua inteligência e sensibilidade. Emprego só conseguido, diga-se, por ter mandado seu currículo sem uma foto anexada. Mesmo de posse dos 260 capítulos, a Globo quer manter Betty, la fea engavetada. No máximo irá adaptá-la, como afirma Luís Alberto Simonetti, diretor de vendas internacionais da Rede Globo. “O projeto ainda está muito prematuro, mas acho que tem cara de novela das sete. Agora, exibir no original, nem pensar. Teria que ser dublado, o que soa absurdo, não é a cara da Globo”, diz ele. A manobra radical, portanto, só confirma que havia uma preocupação da emissora com a possibilidade de este grande hit chegar às mãos do SBT, cuja direção nega o interesse por Betty. Dizem estar satisfeitos com o pacote de novelas comprado da Televisa.

Rumores à parte, deve-se destacar o mérito da colombiana RCN de subverter a máxima de que numa novela a protagonista deva ser linda de morrer. Ana María Orozco, a atriz que interpreta Betty, sem a maquiagem da personagem está a quilômetros da feiúra. Mas ao desempenhar o seu papel, redime as feinhas. Também recuperou o prestígio da beleza interior. Resta saber se, para manter o amor do chefe bonitão, Betty, a feia, não vai apelar para os mesmos recursos das starlets brasileiras e se transformar em Betty, a siliconada.