Em Quemlândia, terra imaginária dos Quem, onde todo mundo leva um Quem no sobrenome, cada data especial é motivo de festa. Mas a que eles mais gostam e na qual se empenham é o Natal. Nesta época, o frenesi na aldeia com cenário de conto de fadas é total. Não há um Quem que não circule pelas ruas atapetadas de neve, escondido entre montanhas de presentes dentro de pacotes hipercoloridos. Com a ansiedade da população vem a competição pela melhor decoração externa das casas e a sempre vencedora Martha May Quem-Vier (Christine Baranski) a cada ano se supera. Agora, para desespero de Betty Lou Quem (Molly Shannon), que não consegue ganhar um concurso, Martha comprou uma metralhadora que, em segundos, prega milhares de minilâmpadas na fachada de seu lar. Quemlândia é mesmo um lugar onde a futilidade brilha com paixão. Mas – tem sempre um mas – há alguém descontente, determinado a explodir a superficialidade dos Quem, povo de narizes semelhantes a focinhos, que usa cabelos e penteados tão exóticos quanto suas aparências. Trata-se de um ser verde, peludo, monstruoso, mal-humorado, comedor de cebolas enormes – só para deixar o hálito ainda mais fétido – e careteiro nato. Portanto, um papel perfeito para Jim Carrey, claro, protagonista de O Grinch (Dr. Seuss’ how the Grinch stole Christmas, Estados Unidos, 2000), superprodução de US$ 120 milhões, que estréia na sexta-feira 1º.

Esforço – Para dar vazão ao seu histrionismo e fazer valer um invejável cachê de US$ 20 milhões, no entanto, Carrey literalmente suou a camisa. Diariamente passava por uma sessão de três horas para vestir a “roupa” peluda de lycra, colocar fileiras de dentes encavalados, ajustar as lentes de contato amarelo-demônio e adaptar a máscara da criatura. A produção minuciosa não aconteceu apenas em torno do ator. Todo o elenco também se submetia a torturantes sessões diárias de maquiagem, aplicando próteses de borracha no rosto. Ao final, foram usadas cerca de oito mil próteses, 3,5 mil orelhas falsas e 300 perucas inacreditáveis. O esforço já deu bons indícios de ter valido a pena. Até a semana passada, o filme dirigido por Ron Howard havia arrecadado US$ 137 milhões nos Estados Unidos. Os americanos adoram Grinch, personagem literário criado por Theodor S. Geisel – nome verdadeiro do Dr. Seuss – num livro publicado em 1957. Onze anos depois, produziram a sua versão animada, mas o produtor Brian Grazer queria levá-lo às telas com gente atuando. E conseguiu, dando pompa a um filme-fantasia que as crianças adoram.

O Grinch é na verdade uma grande metáfora do modo de vida americano: consumo em excesso, futilidade, preconceito, desinformação, vaidade e esplendor. Há também um jogo comportamental de antíteses. É nesta esfera que a garotinha Cindy Lou Quem (Taylor Monsen) começa a questionar o significado real do Natal e a história verdadeira por trás de Grinch, que vive exilado numa caverna no alto do Monte Espicho, ao lado do cachorro Max. Cindy Lou vê bondade encoberta na mistura de duende com E.T. Apenas não imagina com quem está mexendo e acaba desencadeando a fúria verde de Grinch, que decide “roubar” o Natal para ver Quemlândia tão infeliz quanto ele. E só uma grande travessura para matar sua imensa raiva entremeada com tédio. Recheado de efeitos especiais, humor sutil e as eternas mensagens do bem, O Grinch é uma diversão-família que permitiu a Jim Carrey – um ator de altos e baixos – fazer o que ele mais gosta: gestos, caras, bocas e caretas.