Sempre que se traçam panoramas da arte brasileira, as listas apresentadas, por mais imparciais e teoricamente embasadas que sejam, refletem as preferências dos críticos que as organizam. Mas o livro Arte e artistas plásticos no Brasil 2000 (Metalivros, 228 págs., R$ 86), coordenado pelo editor Ronaldo Graça Couto, partiu de uma proposta inusitada e original. Em vez de consultar a crítica, Graça Couto decidiu convidar dez nomes de peso das artes nacionais – de antemão incluídos no projeto – e pediu a cada um que indicasse outros nove de seus pares em importância. A única exigência era que todos fossem vivos. Assim, novamente se revelou a riqueza das artes plásticas no País, na figura de talentos do porte do escultor Franz Weissmann, do pintor Antonio Dias ou do gravurista Gilvan Samico e representantes da nova geração, como Ernesto Neto e Nazareth Pacheco. Os responsáveis pela escolha – Alex Flemming, Amilcar de Castro, Carlos Scliar, Emanoel Araujo, João Câmara, José Resende, Lygia Pape, Marcello Grassman, Maria Bonomi e Siron Franco – foram lembrados pelos seus estilos, modalidades de trabalho e inserções regionais, pois dessa forma o time por eles escalado abrangeria o maior espectro possível nos segmentos de pintura, escultura, gravura ou instalação.

Graça Couto, que teve a idéia do livro há oito anos, sabia desde o início que, como toda lista, a seleção causaria polêmica. “Trata-se de um corte a partir do olhar do artista. Em nenhum momento quisemos chegar a uma relação dos melhores. Mesmo assim, pelo menos 50 destes 100 certamente estariam em qualquer lista”, explica ele, que trabalhou em parceria com a museóloga Sonia Guarita do Amaral. Cada contemplado teve o mesmo espaço de duas páginas. Mas o diferencial é que os próprios artistas indicaram dois de seus trabalhos para ilustrar os verbetes. Os textos foram escritos por críticos ou então pelos autores das obras. Um dos que optaram por este recurso foi o pintor Daniel Senise. Ele enviou uma anotação de 1995 falando da sua emoção ao ver alguns cartazes de oferenda religiosa, feitos com chumaços de algodão. Seu belo depoimento serve como ótima ilustração de seu processo criativo.

Outra peculiaridade do livro é propiciar ao leitor contato com o diálogo travado ao longo dos anos entre um artista e determinado crítico. É o caso, por exemplo, do verbete dedicado ao pintor Arcangelo Ianelli, que selecionou um texto do crítico Olívio Tavares de Araújo. “A precisão que caracteriza seu construtivismo majestoso não elimina a matéria veludosa, a sábia liberdade das composições, nem o colorido envolvente”, escreveu Tavares de Araújo, em 1991. Com esmerado projeto gráfico de Guto Lacaz, também entre os selecionados, Arte e artistas plásticos no Brasil 2000 tem a qualidade de privilegiar a produção mais recente de nomes consagrados, além de preencher uma lacuna ao mapear o trabalho de jovens que já mereciam ter sua obra documentada.