Relógios têm o status de jóias, mas, para um tipo especial de comprador, a quantidade de diamantes e ouro é o que menos importa. Se as mulheres querem luxo, os homens estão mais interessados em garimpar raridades fora de catálogo. Modelos suíços dos anos 30, 40 e 50, dificílimos de se ver à venda até na Europa, são os mais cobiçados. Alguns podem nem ser tão bonitos, mas se forem originais e bem complicados – do tipo com cronômetro, calendário perpétuo e engrenagens montadas à mão – chegam a valer mais do que qualquer Rolex novo.

Colecionador que se preza não se deixa influenciar pela moda: quer relógios que tenham história. O padeiro francês Olivier Anquier, 41 anos, se veste de acordo com o estilo da peça que põe no pulso. Trajes esportes combinam com seu Jaeger-Le Coultre Memovox com despertador ou com seu Heuer Monaco, o original que Steve McQueen usou no filme 24 Horas de Le Mans. Um visual clássico cai bem com o Hamilton Ventura triangular dos anos 40. Para trabalhar, um Universal Unicompax de aço. “Ele foi criado por médicos e tem um ponteiro especial que mede a pulsação”, explica. Anquier tem também dois modelos de parede. Um decorava a confeitaria Fasano. O outro, de 1945, ornava a fachada da IBM no Rio. “Comprei por R$ 300 e gastei R$ 3 mil para restaurá-lo, mas valeu a pena.”

Para descobrir esses tesouros, é preciso sair à caça em feiras e brechós. O biomédico Eduardo, 41 anos, o empresário José Roberto, 57, e o representante comercial Stefano, 50 – eles não divulgam os sobrenomes –, se reúnem na feira de artesanato da praça Benedito Calixto e no Masp, em São Paulo, para comprar, trocar ou exibir seus brinquedinhos. Dono de 800 relógios Omega, Eduardo reserva uma parcela mensal de seus rendimentos para aumentar a coleção, que não mostra nem para os amigos. O italiano Stefano diz que o Brasil e a Argentina são os últimos refúgios para colecionadores. “Na Europa, há pouca coisa à venda e aqui também começa a faltar”, afirma.

O jeito é apelar para sites de leilões. No Lokau e no Arremate, por exemplo, pode-se adquirir de um Omega de ouro (R$ 700) a um Rolex Daytona (R$ 18 mil). Quem oferece e quem arremata só se identifica por e-mail. Assim, no anonimato, o publicitário Dan Henry, 29 anos, lucrou R$ 5 mil. Arrematou um Rolex por R$ 500 e, uma semana depois, vendeu-o pelo triplo do preço. Também teve nas mãos um IWC por apenas dois dias. Vendeu com lucro de 20%, por R$ 5 mil. “Como pouca gente conhece relojoaria suíça, renovo a coleção e vendo os modelos que enjoei”, gaba-se Henry. Mas essa obsessão por relógios raros pode se transformar em stress. Por medo de assalto, o comerciante Luiz de Freitas, 72 anos, se desfez de sua coleção de 140 exemplares de marcas como Patek Philippe, Universal e Audemars Piguet. “Queria era andar com três em cada pulso, mas não tinha coragem de exibir nenhum. Cheguei a guardar mais de 20 embaixo do colchão. Um dia teria de dar um destino para eles”, conta.