No Brasil de hoje, parece ser preciso piorar antes de melhorar. Uma má notícia na área econômica, que foi a decisão da agência de risco S&P de colocar o Brasil em perspectiva negativa, foi a faísca necessária para conter a guerra política e abrir espaço para uma janela mínima de entendimento. Embora tenha mantido o grau de investimento, a S&P foi clara ao atribuir à crise política o principal entrave para o ajuste fiscal e a retomada da economia.

O recado, aparentemente, foi entendido. O primeiro político a propor um caminho racional para o debate foi o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, do PMDB. Segundo ele, “a guerra política insana não levará o País a lugar algum”. E disse mais: afirmou que todos deveriam se unir para evitar a perda do grau de investimento e disse ainda que a tensão permanente será ruim para o governo atual, mas também para quem poderá vir a ser governo amanhã.

Essa foi a tônica do encontro que reuniu governadores de todos os estados no Palácio do Planalto, na última quinta-feira. Se, por um lado, a presidente Dilma Rousseff defendeu o caminho da “cooperação federativa”, ela também recebeu acenos da oposição. “Nenhum de nós tem interesse em colocar fogo no circo”, disse o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB. “Para nós, quanto menos crise tiver, melhor para governar”, afirmou Marconi, citando ainda o governador paulista Geraldo Alckmin.

O que se espera agora dos governadores, que também sofrem com a paralisia econômica e a frustração de receitas orçamentárias, é que mobilizem suas bancadas no Congresso em favor do ajuste fiscal dos ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa. Afinal, governo e oposição estão no mesmo barco e a estratégia do “quanto pior, melhor” não deveria interessar a ninguém.