PROJEÇÃO Hélio Oiticica diante de um Parangolé, tema de uma coleção espanhola

Em setembro de 1971, quando morava em Nova York, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) escreveu um texto que levava o título Anotações para serem traduzidas ao inglês: para uma próxima publicação. Tradução e publicação chegam agora, 37 anos depois, com o lançamento de Fios soltos: a arte de Hélio Oiticica (Perspectiva, 416 págs., R$ 65), organizado por Paula Braga. Além de textos inéditos de Oiticica, o livro em edição bilíngüe português e inglês reúne 12 ensaios de pesquisadores brasileiros e estrangeiros sobre o inventor do Parangolé, da Tropicália e das Cosmococas. No texto O Hélio não tinha ginga, por exemplo, o historiador e curador britânico Michael Asbury observa que, apesar de o artista ter conseguido em vida o reconhecimento de algumas instituições de arte européias e americanas, “seu trabalho permaneceu até há pouco tempo periférico às narrativas da arte contemporânea ocidental”. Mas as pesquisas reunidas no livro, como também as mostras realizadas sobre ele no ano passado em Nova York, Houston e na Tate Modern de Londres – além da exposição que festejou os 40 anos da Tropicália –, indicam que esse quadro mudou. “O interesse internacional por artistas brasileiros acontece porque há uma sintonia entre mercado, pesquisa e boa produção”, diz a pesquisadora Paula Braga. “Esse feliz momento que a obra de Oiticica está vivendo impulsiona a atenção desse tripé mercado-pesquisa-instituição para vários outros artistas brasileiros.”

A projeção de Oiticica é tal que um de seus projetos mais emblemáticos dá nome a uma série de livros lançada na Espanha e em Portugal pela editora Dardo. Os três volumes Parangolé – fragmentos desde los 90: Brasil, Portugal y Espanha apresentam visões panorâmicas da arte emergente durante os anos 1990 nos três países. “O que definimos aqui como Parangolé é uma homenagem à situação de participação coletiva pela qual advogou Oiticica. O nome é um ponto de partida metafórico para denominar o nosso caleidoscópio”, afirma o editor espanhol David Barro. O projeto Parangolé, que inclui uma exposicão, em cartaz até 22 de junho no Museu Patio Herreriano, em Valladolid, na Espanha, busca reforçar a aproximação histórica e cultural dos três países.

Na edição dedicada ao Brasil, são apresentados 49 artistas brasileiros, com textos de 34 críticos internacionais. Curiosamente, não está representada Beatriz Milhazes, que na semana passada atingiu o patamar de superstar do sistema da arte nacional, ao ter sua tela O mágico vendida por US$ 1,049 milhão em leilão na Sotheby’s de Nova York. Ganharam espaço nomes como Sandra Cinto, José Bechara e Georgia Kyriakakis, que inclusive tiveram monografias publicadas pelas Edições Dardo (ainda não distribuídas no Brasil). Beatriz ganha em julho o relançamento de Beatriz Milhazes (Francisco Alves, 264 págs., R$ 180), em edições em português e em inglês, separadamente. Também pronta a atender à demanda internacional, a editora Cosacnaify tem todo o seu catálogo de arte em formato bilíngüe, incluídos aqui seus três últimos lançamentos, as monografias Célia Euvaldo, Rodrigo Andrade e Waltércio Caldas.

O catálogo da exposição Tropicália e os estudos sobre Beatriz Milhazes e Rodrigo Andrade estão entre os livros voltados para o mercado externo