Na última semana, Lula e o Palácio do Planalto passaram a emitir sinais de que pretendem buscar entendimentos com a oposição, em particular com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É verdade, como diz o ministro Edinho Silva, que nas democracias mais maduras os presidentes têm o hábito de se reunirem com os antecessores. Também é fato que a formulação de uma espécie de pacto nacional, como preconiza o vice-presidente Michel Temer, possa, em tese, ser remédio eficaz para tirar mais rapidamente o País do atoleiro em que se encontra. No entanto, dois problemas contaminam os sinais emitidos pelo Planalto. O primeiro: a presidente Dilma Rousseff tem condições políticas para ser a protagonista desse encontro? Depois de encabeçar uma campanha em que fez o diabo para se eleger, ela acabou se tornando o símbolo de um dos maiores estelionatos eleitorais de nossa história, colocando em prática medidas que passou o tempo todo dizendo que não adotaria, ainda que vacas tossissem. Logo depois de eleita, afirmou que chamaria a oposição para o diálogo, mas jamais o fez. Agora, chegando ao oitavo mês de seu segundo mandato, a presidente se equilibra sobre as fendas de uma base política completamente esfacelada, ostenta uma ridícula popularidade na casa de míseros 7% e, com a Operação Lava Jato, parece que seu mandato fica mais curto a cada descoberta da PF. Diante desse cenário, o chamamento para um encontro com a oposição, além de tardio, soa como oportunista.

O segundo problema que contamina o convite de Lula e do Planalto diz respeito aos reais interesses desse diálogo. Nas últimas semanas, o Petrolão e seus desdobramentos se aproximaram do ex-presidente Lula, seja pelas empreiteiras seja por investigações promovidas fora do Brasil. Uma aproximação que vem no momento em que as pesquisas apontam para um descrédito do que um dia foi chamado de lulismo. Estariam, de fato, Lula e Dilma, buscando um entendimento nacional para tirar o País da crise, ou interessados em promover um acerto que possa evitar um provável impeachment de Dilma e um cerco policial a Lula?

Cauteloso, Fernando Henrique diz não se furtar a um encontro com Lula, desde que a agenda seja pública. Agora, à oposição, o importante é apresentar suas propostas para superar a crise e fazer o País andar, ainda que o foro não seja um encontro com Dilma, mas o Congresso Nacional.