Um país distante, ensolarado, com oito mil de quilômetros de costa pontilhada por coqueiros e águas cristalinas. Florestas, montanhas e rios também se esparramam pelo imenso território. Parece familiar? Pois é aqui mesmo, nas terras tupiniquins que não só brasileiros mas também europeus, japoneses e os eternos argentinos estão pensando em gozar as férias. Depois dos atentados de 11 de setembro, a indústria do turismo sofreu um baque. Estima-se que, em poucos meses, haverá uma queda de 30% nas viagens em todo o mundo. Mas a América Latina, especialmente o Brasil, sairá beneficiada. Motivos não faltam. Os europeus, particularmente os portugueses, que entre dezembro e março buscam sol e calor, tendem a voltar seus olhos para o Brasil, já que para chegar aqui não é preciso cruzar o espaço aéreo americano. Para os argentinos, apesar da crise, fica mais barato pegar o carro e subir pela BR 101 para curtir o verão do que ficar na bela Buenos Aires. A previsão é de que 1,5 milhão deles devem invadir o País na temporada. A maioria se concentrará, como sempre, entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Mas há quem acredite que ainda é cedo para tanta euforia. Apesar de otimista, Enrico Lavagetto, presidente da Brazil Incoming Tour Operator, chama a atenção para o fato de que o turismo brasileiro ainda é caro diante de seus principais concorrentes internacionais, como os asiáticos Bali, Tailândia, e Hong Kong e o sul-americano México. “Esses roteiros saem em torno de 30% mais baratos para americanos e europeus do que os do Brasil”, comenta.

Apesar dos preços e da imagem negativa provocada pela violência, em 2000 o Brasil recebeu 5,6 milhões de estrangeiros. Para o próximo verão, temporada que vai de dezembro a fevereiro, incluindo o Carnaval, são esperados 1,9 milhãode turistas. Entre eles, uma legião de portugueses deverá estar se deliciando, principalmente nas praias do Nordeste. “Em três meses, três mil portugueses vieram para cá. Isso só em vôos charters”, diz Caio Luiz de Carvalho, presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). O órgão mantém convênio com secretarias e ministérios de Turismo europeus, com o objetivo de divulgar a imagem do Brasil lá fora e facilitar a visita de turistas do Velho Continente. Esse acordo viabiliza, por exemplo, a disponibilidade de vôos fretados vindos da Alemanha, outro filão do turismo nacional. No ano passado, vieram 700 mil alemães, só perdendo para os argentinos, que somaram 1,744 milhão e americanos, no total de 648 mil. Estes, aliás, serão a grande ausência do verão. Assustados com qualquer pessoa que fale inglês com sotaque, eles devem ficar em casa.
 

Os americanos vão deixar saudade principalmente no Rio, ainda o principal destino turístico do País. Mas, mesmo com essa ausência, as areias de Copacabana deverão ficar lotadas no Réveillon. Recente sondagem feita pela Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav) constatou que houve um aumento na procura por esse destino em torno de 40% em relação ao ano passado. Isso não significa ainda uma venda efetiva de pacotes turísticos, apenas uma intenção de passar o verão no Rio. “É tradicional, a partir de outubro, aumentar o interesse pela cidade, só que neste ano cresceu”, comenta Carlos Alberto Amorim Ferreira, presidente da Abav-Rio.

Jorge Eduardo Guinle, secretário estadual de Turismo do Rio, que acumula o cargo de presidente da Riotur, também anda comemorando. “O Rio, que sempre costuma se beneficiar dessas mudanças de fluxo do turismo internacional, agora terá nas mãos uma oportunidade ímpar”, espera. Pelos seus cálculos, o Rio deverá receber de 5% a 10% a mais de turistas do que no verão passado. Em 2000, a cidade recebeu 2,2 milhões de turistas (nacionais e estrangeiros).

As previsões da Riotur apontam também para um crescimento no turismo marítimo. Depois da lei da cabotagem, aprovada em 1996, o número de cruzeiros marítimos cresceu. “No ano passado atracaram na costa brasileira 92 navios. Este ano deverão ser 104”, contabiliza Caio de Carvalho, da Embratur. “O destino para o Brasil tende a se consolidar porque caiu o movimento de navios que saem de Miami para o Caribe”, completa ele.

Com tudo isso, a tendência do mercado brasileiro é realmente se intensificar. Até mesmo Brasília tem lá seus atrativos. Dados divulgados pelo Brasília Convention and Visitors Bureau mostram que no ano passado 150 mil turistas que vieram ao Brasil passaram pela Capital Federal. “Eles querem visitar os palácios e prédios projetados por Niemeyer”, diz Yoshiro Karashima, da Prestheza Turismo. Mas os destinos preferidos são, é claro, Rio, Nordeste e, mais recentemente, Amazônia. É comum ver americanos endinheirados embrenhando-se

na selva para pescar tucunarés nos rios de Roraima. A região é hoje o pólo que recebe mais investimentos. Uma parceria entre governo, Banco Inter-americano e os nove estados da Amazônia Legal receberão investimentos da ordem de US$ 280 milhões nos próximos cinco anos. O ecoturismo é o grande beneficiado. Amazônia e outros destinos foram selecionados por ISTOÉ dando continuidade às dicas dadas na edição anterior.

Colaboraram: Greice Rodrigues, Rita Moraes, Eduardo Hollanda, de Brasília, e Liana Mello,
do Rio de Janeiro

Pior viagem

Célia Chaim

Sol Agência de Viagens e Turismo Ltda. Realizar sonhos e respeitar consumidor sempre fizeram parte do roteiro…”

O slogan que a agência exibia em suas promoções virou pesadelo para os clientes que compraram pacotes da Soletur no dia em que seu dono, Carlos Augusto Guimarães Filho, decretou falência, com dívidas de R$ 30 milhões. Como ninguém decreta falência de um dia para o outro, a Embratur abrirá um processo administrativo para apurar se houve má-fé da agência por ter vendido passagens até o último minuto do segundo tempo do jogo. A suspeita tem o reforço de anúncios publicados em jornais vendendo pacotes na véspera de seu encerramento, no dia 24 de outubro.

Numa outra frente, o Sintur (Sindicato de Trabalhadores e Profissionais de Turismo do Estado do Rio de Janeiro) obteve uma liminar bloqueando bens e uma conta corrente da agência. Os empregados (450) querem receber cerca de R$ 7 milhões referentes a seus direitos trabalhistas. Aos clientes lesados resta recorrer às entidades de defesa do consumidor. Muitos correm o risco de não serem ressarcidos porque compraram diretamente da operadora.