Na cabeça de Michael Joseph Jackson, nascido negro e pobre há 43 anos em Gary, Indiana, 2001 seria a data de seu retorno ao trono de “Rei do Pop”. Depois de apresentações mirabolantes no Madison Square Garden nova-iorquino, pelo menos em termos de preço dos ingressos – até US$ 2,5 mil por pessoa – e de convidados, incluindo milagres da medicina, como Liza Minelli, Liz Taylor, Marlon Brando e ele próprio, Michael Jackson lançaria seu primeiro CD com músicas originais em uma década. Não contava com a chuva de aviões que se abateu sobre aquela cidade. Mais do que depressa, o cantor organizou um evento beneficente para as vítimas, nos moldes do antigo We are the world, de 1985, dedicado às vítimas da fome na Etiópia. Acabou sendo ofuscado por um evento paralelo, encabeçado por Paul McCartney, o eterno beatle, cujo legado artístico no grupo de Liverpool é hoje de propriedade de Jackson.

Acostumado às paradas de sucesso e às turnês desde os cinco anos de idade, Jacko, como a imprensa americana costuma chamá-lo, se vê invencível. Nada mais natural que o título do CD que chegou às lojas do mundo todo segunda-feira 29 seja Invincible, 77 minutos de música, divididos em 16 faixas, tendo consumido seis anos, milhares de horas de estúdio e estimados US$ 30 milhões. A capa da esperada preciosidade traz o rosto atual do ser mutante em alto contraste, com o fundo impresso em tinta prateada na versão original e em tons de vermelho, laranja, verde ou azul nas edições limitadas – ISTOÉ ouviu a azul. O riff hipnótico da faixa de abertura, Unbreakable, trazendo a voz do rapper Notorius B.I.G., dá a tônica do disco. Fuzilado numa guerra de gangues, ele já havia participado da coletânea Michael Jackson’s HIStory – past, present and future book 1. Heartbreaker e a faixa-título seguem a mesma linha, superpondo a voz de um rapper, no caso Fats, à dance music funkeada.

A partir de Break of dawn, entram as baladas, sempre legitimadas por um produtor negro de peso. Dr. Freeze nesta e em Heaven can wait, Babyface em You are my life, R. Kelly em Cry. O comediante Chris Tucker dá uma pala em You rock my world, Carlos Santana incendeia com sua guitarra Whatever happens e o filho de Michael, Prince Jackson, canta com outras crianças em The lost children. Em suma, baladas e levadas funk não mais que agradáveis, com destaque para a nervosa 2000 watts, cantada em um tom mais rouco que o habitual – afinal ele já é um quarentão –, que não justificam o preço e a demora para a confecção do álbum. Como curiosidade, o encarte traz um desenho de Uri Geller. Sim, aquele dos garfos. E duas páginas de agradecimentos, inclusive para o guitarrista Jeff Beck, provavelmente pela ausência. Threatened, a última faixa do disco, abre com a voz de Rod Serling, criador da série de televisão Além da imaginação, mais uma esquisitice de Jacko. Esquisitices. Nisso, sim, ele é invencível.