Tem gente acusada de meter a mão na Petrobras que quer agora meter o nariz na Lava Jato. São sobretudo caciques do PT que andam forçando a pajelança de José Eduardo Cardozo contra a Polícia Federal, mas deram com os burros n’água porque o ministro da Justiça é melhor que os curandeiros que desejam inaugurar na política brasileira um novo tipo de ministério — o ministério do partido no lugar do ministério de Estado. Esse desejo é, historicamente, vocação de grupos políticos que surgem como surgiu o PT, cindido entre os oportunistas, que já no nascedouro da sigla vislumbravam a apropriação patrimonialista do poder, e os idealistas que confundiam a região do ABC das greves lulistas com a vermelha Bologna italiana e o outubro alemão do Vale do Ruhr. Aqueles que viam o poder como instrumento de interesses privados ganharam a disputa, e o PT deu no que deu: representação política que agora vive a atropelar dolosamente as instituições republicanas.

Em uma sucessão de fatos recentes, tem-se que caciques ensaiaram a dança de exigir de Cardozo uma interferência nas investigações da Lava Jato, e tal tentativa, do ponto de vista legal, por si só pode ser vista como crime (obstaculizar a Justiça). Perceberam onde a coisa podia dar e recuaram, mas continuaram a achar que o Ministério da Justiça existe para advogar partidariamente. Dilma, que cometeu o absurdo de comparar o recurso jurídico democrático da delação premiada com as torturas dos porões da ditadura militar, se esquece de que foi ela mesma quem sancionou a delação – e que ela é homologada pelo STF. José Eduardo Cardozo declarou que jamais interferiria no princípio constitucional da impessoalidade da investigação, alicerce do Estado de Direito. Deu uma aula de democracia e deixou o pessoal com o mico na mão.

O ministro da Justiça não sai da cabeça de alguns petistas, e prova disso foi a aprovação de seu nome para depor na CPI da Petrobras. Edindo Silva e Aloizio Mercadante, segundo Ricardo Pessoa, teriam recebido dinheiro ilícito, mas foi José Eduardo Cardozo o convocado porque acharam mais vital colher explicações sobre suposta escuta clandestina na cela de Alberto Youssef do que investigar Mercadante e Edinho – isso, entre outros pontos. Levantou-se a hipótese de que eventual “grampo” talvez tenha sido colocado quando nessa cela ficou Fernandinho Beira Mar, e lá permaneceu esquecido. Há quem tente com isso, no PT e fora dele, zombar dos brasileiros e cometer o disparate de anular processualmente a Lava Jato. Vão querer anular também os processos contra o traficante?

Recordar é viver

Com o Brasil mergulhado em crise econômica, a monarquia deu o famoso baile no Palácio da Ilha Fiscal, na então baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Ao desembarcar na ilha, o imperador dom Pedro II pôs-se a admirar o cruzador Almirante Cochrane, acabou tropeçando e disse: — Eu não vou cair, eu não vou cair, eu não caio…

Os que o socorreram sentiram mau presságio. O baile foi em 9 de novembro de 1889. Não demorou quase nada para Pedro II cair com a proclamação da República.

O leitor e a leitora lembram-se de ter ouvido, recentemente, alguém repetir as palavras do imperador? Quem lembrar, entendeu.