O Brasil produz cerca de 20 milhões de toneladas de lixo por ano. O que hoje é um estorvo, porém, pode muito bem se transformar em solução para outra grande questão: a geração de energia. Para que isso ocorra existe uma expressão-chave: reaproveitamento de resíduos, que pode significar uma oferta de 50 terawatts/hora, correspondentes a 15% do total da energia consumida no País. A medida representaria ainda a redução anual do lançamento na atmosfera de dez milhões de toneladas de gás carbônico – um dos maiores vilões do efeito estufa –, uma economia de R$ 10 bilhões, se computados os custos indiretos, e a geração de um milhão de empregos. O autor dessa tese é o matemático carioca Luciano Basto Oliveira, 36 anos, da Coordenadoria dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ).

Parece mágica, mas não é. Quase um terço de todo o lixo coletado é reciclável. Outros dois terços são compostos por restos alimentares. Depois de beneficiada, mais da metade dessas sobras transforma-se em celulignina catalítica, um combustível sólido que é capaz de substituir petróleo e carvão. As vantagens são inúmeras. Além da economia, o uso do material também evita as atuais emissões de gás metano dos depósitos de lixo e prolonga a vida útil dos aterros sanitários ao permitir melhor aproveitamento do espaço.

A Faculdade de Química de Lorena, no interior de São Paulo, já opera um reator em escala piloto que obtém dois produtos a partir do lixo separado: a celulignina e o funfural. Este último, que representa 6,5% dos restos alimentares, é um insumo para a indústria petroquímica e custa US$ 1.500 a tonelada. Atualmente, é importado pelo Brasil. “A Faculdade de Química já tem um consumidor para o funfural, mas ainda não utiliza a celulignina. Ela será aproveitada na parceria com a Coppe”, observa Oliveira.

O matemático sabe que introduzir a coleta seletiva no Brasil não será um processo rápido, mas por enquanto a separação poderá ser feita depois que os resíduos chegarem às usinas. O Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais da Coppe está em negociações com duas instituições a fim de obter as turbinas necessárias para a celulignina substituir o gás na geração de energia. Se tudo correr bem, os testes poderão ser iniciados no primeiro semestre de 2001. “O tempo para a entrada em operação do sistema é de um ano e meio”, avalia.