A novela da venda do Jornal do Brasil, um dos mais tradicionais diários do País, tem capítulos decisivos marcados para o início do próximo ano. Com dívidas estimadas em R$ 750 milhões, a família Nascimento Brito está a um passo de fechar negócio com o empresário baiano Nelson Tanure. A operação é complexa e sua divulgação, na semana passada, causou alvoroço entre os credores do jornal. A empresa DocasNet, de Tanure, investiria R$ 80 milhões para dividir o controle do JB On Line, o braço do jornal na internet. Empresa enxuta e saneada, o JB On Line passaria, aos poucos, a assumir os funcionários até que “o velho Jornal do Brasil” ficasse apenas com o imponente edifício-sede, na avenida Brasil, e as dívidas.

O presidente do Conselho Editorial do JB, José Antonio do Nascimento Brito, desmentiu na quarta-feira 12 a informação, publicada pela Folha de S.Paulo, de que Tanure teria comprado o Jornal do Brasil e assumiria o controle empresarial e editorial do Sistema JB. “A notícia da Folha não procede, é cascata. Não há venda do Jornal do Brasil e nem por um momento o controle editorial fez parte das negociações”, afirmou José Antonio.

Funcionários do Jornal do Brasil temem que as negociações com Tanure repitam o fenômeno da falida TV Manchete. “Os funcionários da tevê foram contratados pela TV Ômega, que ficou com a concessão do canal, e a TV Manchete virou um fantasma atolado em dívidas e sem arrecadação”, lembra a presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, Janice Caetano. Para José Antonio, o pagamento das dívidas trabalhistas é prioritário porque só com sua renegociação é que o jornal pode ter acesso ao Programa de Refinanciamento Fiscal (Refis), da Receita Federal.

Com atividades concentradas em negócios de portos e navios, Tanure começou a frequentar as páginas dos jornais durante o governo de Fernando Collor, por suas ligações com a então ministra da Economia Zélia Cardoso de Melo. Tanure também é conhecido por ter se especializado em comprar e recuperar empresas endividadas, como a Cia. Docas de Santos e o estaleiro Verolme. Ele é sócio minoritário de vários projetos de entretenimento no Rio. José Antonio do Nascimento Brito está tranquilo pela opção por Tanure: “Pesquisei a vida dele à beça, olhei cada negócio com muitos detalhes e não vi nada de diferente de muito titã que a gente conhece, inclusive no jornalismo. Estou tranquilo e tomei uma decisão muito bem pensada.”