O fim do século XIX foi marcado no Brasil pela chegada em massa de estrangeiros, especialmente italianos, que ajudaram a revolucionar os costumes das grandes cidades. As consequências dessa miscigenação podem ser conferidas nos dois novos tomos do Dicionário das famílias brasileiras, que o genealogista Eduardo Barata e o deputado monarquista Cunha Bueno lançam em janeiro. Os calhamaços reúnem 20 mil verbetes sobre os séculos XIX e XX, chegam às livrarias por R$ 190 e vêm acompanhados de CD-Rom.

Não fossem os italianos, as Organizações Globo não existiriam. O jornalista Roberto Marinho é neto da italiana Cristina Pizzani. A filha dela, Francisca Pizzani (1886-1976), casou-se com Irineu Marinho Coelho de Barros, fundador do jornal O Globo. Nos almoços de família, consta que um empregado lia o jornal para dona Chica, sob o pretexto de que ela não enxergava bem. Só os que privavam de sua intimidade sabiam que a mãe de Roberto Marinho, apesar de nascida no Brasil, não sabia ler em português.

Outro exemplo de imigração que deu certo é o do conde Francisco Antônio Maria Matarazzo (1854-1937). Um dos nove filhos de Costábile Matarazzo com Mariangela Iovane, Francisco fixou-se em Sorocaba, em 1881. Nesse ano fundou sua primeira fábrica, de banha. Matarazzo tornou-se o pioneiro da industrialização brasileira e criou o maior complexo fabril da América do Sul. Em 1917, foi nomeado conde pelo rei italiano Vittorio Emmanuele. Todos os seus seis filhos também ascenderam a condes, por decreto do governo italiano. Para deixar suas cidades de origem, os italianos inscreviam-se em uma listagem que definia cotas de mão-de-obra para cada profissão. “Quem queria viajar a qualquer preço falsificava a profissão. Muitos eram camponeses que ajudaram a salvar São Paulo da falência quando os escravos foram libertados”, lembra o genealogista e mestre em educação Gilson Nazareth, 64 anos.

Mais do que inserir a macarronada e a pizza no cardápio nacional, a onda de italianos arejou as idéias no País. Entre eles havia anarquistas, que deram origem ao movimento de mesmo nome no Brasil. “Meu avô Gattai veio de Florença para o Brasil em 1889 no navio Cittá Di Roma e ajudou a fundar a colônia anarquista Cecília, no Paraná. Eles queriam transformar o mundo, mas era uma utopia irrealizável”, lembra a escritora Zélia Gattai. Entre os sobrenomes italianos mais e menos ilustres figuram também o do ator Reynaldo Gianecchini e o do banqueiro fugido Salvatore Cacciola. Os Gianecchinis chegaram ao Brasil em 1883 a bordo do vapor France, vindos de Gênova. Já o primeiro Cacciola de que se tem notícia, Francisco, 56 anos, desembarcou no Brasil pelo vapor Mendoza e veio acompanhado da esposa, Elizabetta, e de três filhos, Maria, Nazarena e Bartholomeo.