Aos 86 anos, Caymmi continua bem-humorado. “Eu adorava passear de bonde. Mas isso acabou. Hoje eu passeio de elevador. Outro dia, não estava fazendo nada, pensei: vou andar de elevador. Desci. Quando cheguei ao térreo, pensei de novo: vou subir.” Assim é Caymmi, que tem agora praticamente todas suas canções relançadas na caixa Caymmi amor e mar, reunindo em sete CDs a obra gravada para a EMI, algo em torno de 90% de sua produção. Muitas das músicas são baseadas em cenas vividas principalmente na sua terra natal.

Caymmi tanto apreciou o mar, tanto olhou as praias, tanto observou os ventos que a música brasileira foi brindada com preciosidades como Saudades de Itapoã, É doce morrer no mar, Pescaria, A jangada voltou só. Em compensação, por produzir pouco, ganhou o aposto de preguiçoso. “Para você contemplar, precisa estar parado, sentado, deitado, encostado numa parede. E isso dá a impressão visual de que você está com preguiça”, justifica. De seu repertório, não há música preferida. “Assim como não tenho preferência pelo dia de amanhã.” As pessoas frequentemente apostam em Marina, um dos vários nomes femininos por ele musicados. No entanto, não há nenhuma Stella, nome da mulher com quem está casado há 60 anos. “Ah, ela não precisa. Ela é Stella, uma estrela!” A neta, também Stella, filha de Nana, cochicha: “Minha avó fica furiosa com essa história.”

Embora forte e saudável, Caymmi está com as limitações típicas da idade, como diminuição da visão, mãos trêmulas, gestos lentos. No momento, se esforça para superar as deficiências e concluir Segredos do mar, tema de abertura da minissérie global de mesmo nome, baseada no livro Mar morto, de Jorge Amado. Também ajuda a neta Stella a arredondar a biografia que ela pretende lançar sobre o avô. A dupla promete reviver muitas histórias. Todas ótimas para serem lidas, de preferência numa rede com vista para o mar.