Prestes a colocar nas lojas o oitavo álbum, a banda mineira Pato Fu encabeça a lista das preferidas entre o público do pop rock brasileiro. Mas nem sempre foi assim. Antes de se tornar o Pato Fu, lá nos anos 80 os mineiros fizeram shows no circuito alternativo, enfrentaram as crises da saída e entrada de integrantes e até mudanças de nome – no passado eram conhecidos como os Sustados por um gesto. Tudo mudou quando tiveram a brilhante idéia de passar o microfone para uma garota, Fernanda Takai. A voz suave e a delicada presença da moça em contraste com as distorções roqueiras ganharam em cheio o público e tornaram a banda conhecida além das montanhas de Belo Horizonte. Desde então, a equação meninas-fofas-vocalistas + marmanjões vem sendo seguida à risca por grupos que sonham com o estrelato, caso das bandas Ludov, Leela e Brava.

À frente do quinteto paulistano Ludov, que acaba de lançar O exercício das pequenas coisas (Deckdisc), está Vanessa Krongold, 28 anos. Com a música Princesa, a banda faturou o prêmio de melhor grupo independente do Video Music Brasil, da MTV, passaporte para sair do cenário underground. “O problema do público indie é que só querem ouvir bandas novas. Quando você começa a fazer um pouquinho mais de sucesso, torcem o nariz”, conclui a moça. Uma das razões da identificação imediata do público alternativo com o som do Ludov está nas letras bacanas de canções como Sério (Tudo é tão difícil pra você/quem sabe um filme antigo cairia muito bem?). Mas a voz doce de Vanessa ajuda. No quesito “doçura”, atributo que remonta à Rita Lee dos Mutantes e à Paula Toller de Kid Abelha, ganha disparado a carioca Paula Marchesini, 22 anos, líder do Brava. Ela compôs todas as faixas do primeiro álbum, que poderiam muito bem servir de trilha para
qualquer personagem do seriado global Malhação.

As letras de Paula tratam de sentimentos adolescentes, como o conflito com o pai em Aquele jeito (E pro meu pai é muito importante/que se chegue cedo/onde quer que se vá) ou as crises existenciais típicas da idade, tema de 18 anos (Mas o que você precisa/é o que ninguém duvida/todo mundo tem que mudar alguma vez). Por incrível que pareça, a inspiração para tais dilemas não tem origem autobiográfica. Vem das leituras do curso de filosofia no qual a vocalista do Brava se graduou recentemente. “Minhas referências são Nietszche e Wittgenstein. Sempre escrevi poesia e agora estou transformando-as em música”, explica a acadêmica Paula. Embora acredite que uma mulher no vocal seja “um elemento facilitador” para uma banda de rock, John, guitarrista do Pato Fu, conta que as meninas roqueiras levam vida dura. “No começo, têm de carregar equipamento e tocar em lugares apertados e sujos. Não basta ser uma menina no meio de uma banda cheia de homens para se destacar. Tem de saber se comunicar com o público.”

Pitty, um dos ícones da nova geração de garotas roqueiras, conta que o começo é árduo. “Sempre tive a preocupação de, por ser menina numa banda de meninos, colocar em primeiro plano a música e não o fato de eu ser uma garota”, conta a moça, que enumera entre suas influências artistas como PJ Harvey e a banda feminina L7. A carioca Bianca Jhordão, 27 anos – que antes de liderar o Leela
fazia parte da trupe de loiraças da banda de Fausto Fawcett –, revela que passou
por maus bocados quando resolveu tocar guitarra e se apresentar num festival
de rock independente. “Eu ouvia provocações de uns babacas na platéia gritando para eu tirar a calcinha ou ir pilotar um fogão”, lembra. “Mas depois que provei que tinha atitude e meu trabalho é sério, a receptividade foi boa.” Sem a ajuda de
nenhum superpoder.