Que a violência do Rio de Janeiro é uma máquina de moer político sabe-se há duas décadas. Foi assim com Leonel Brizola, que não elegeu o sucessor em 1986, com Moreira Franco, novamente com Brizola e com Marcello Alencar. O governador Anthony Garotinho (sem partido), que assumiu tão crente em reverter o quadro que logo se lançou candidato a presidente, chega ao terceiro ano acuado pela maldição que abateu os antecessores. Para quem achava que a violência do Rio não tinha mais espetáculos a apresentar, os últimos dias foram um soco. Na segunda-feira 4, uma granada foi jogada na 6ª Delegacia de Polícia, a poucos metros do Sambódromo. Na quinta-feira 7, outra granada contra policiais na favela do Jacarezinho. Era a sexta explosão em 20 dias, sem contar a granada encontrada, na mesma quinta-feira, numa agência bancária da zona oeste. Cinco das seis explosões tiveram a polícia como alvo.

A onda começou com a detonação de uma granada em frente a um prédio de luxo no Leme (zona sul), em 17 de novembro. No dia seguinte, uma bomba caseira lançada em um carro da PM na Baixada Fluminense feriu um sargento. Na madrugada do dia 22, uma granada explodiu no Centro de Fisiatria e Reabilitação da PM, em Olaria (zona norte). Em 1º de dezembro, outra foi jogada na Polinter, no Centro. A última destruiu a porta e duas janelas da 6ª DP, além de atingir quatro carros, três da polícia.

A explicação mais plausível é de que as granadas contra a polícia foram jogadas pela própria polícia. A hipótese foi levantada pelo governador, atribuindo os atentados a setores contra a reforma da instituição, especialmente a unificação das polícias. É uma das poucas idéias compartilhadas hoje por Garotinho e o antropólogo Luiz Eduardo Soares, que idealizou a política de segurança, mas deixou o governo acusando-o de vacilar na reforma. “O projeto foi comprometido pela intenção de construir uma imagem ambígua de candidato à Presidência. Ele acena com a reforma, mas mantém laços com os conservadores para mostrar firmeza com meras ações de confronto nas favelas”, diz Soares, que na segunda 11 lança o livro Meu casaco de general, sobre sua passagem pelo governo. Segundo ele, a existência de policiais terroristas foi confirmada por uma investigação da PM. “Eles praticam atos criminosos para desestabilizar o governo”, revela Soares.

As investigações sobre o arsenal de guerra em poder de criminosos, especialmente traficantes, também têm sido feitas pelas Forças Armadas e apontam para o recrutamento de seus soldados por traficantes. O caso do fuzileiro naval Fábio Reis, preso na semana passada com armas que iriam para o narcotráfico, não é isolado. A informação de que soldados residentes em favelas são pressionados por traficantes a roubar armas dos quartéis chegou ao Superior Tribunal Militar. O brigadeiro Cherubim Rosa Filho, assessor do STM, confirma: “Eles cumpriram a determinação dos marginais.”
Colaborou Hélio Contreiras (RJ)