Mais de 200 taxistas estão em vigília em frente ao Fórum do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aguardando a audiência que decidirá sobre a liberação de 13 mil autonomias aos motoristas auxiliares de empresas. Esperar pela concessão municipal, que informalmente chega a valer R$ 70 mil, é a única opção para os que protestaram no último dia 24, no movimento Diárias Nunca Mais, quando 600 motoristas largaram seus carros nas ruas, causando um estrangulamento monstruoso no trânsito. Se o prefeito Luiz Paulo Conde não liberar as autonomias, os taxistas podem ficar desempregados. Segundo João Batista Gama, presidente do movimento, “os que estão na luta não conseguirão trabalhar para as empresas”.

Estas empresas são personagens de um enredo cruel. Proprietárias de centenas de táxis, exploram motoristas, cobrando diárias altíssimas, e não criam vínculo empregatício. A luta pela concessão de novas autonomias é, para os motoristas, uma forma de se libertar do domínio dos tubarões do mercado. O principal deles é Pascoal da Silva Rêgo. Conhecido como rei dos táxis do Rio, ele admite ser dono de 360 desses veículos, mas há quem diga que tem cerca de 800. Nesse negócio da China, seu rendimento mensal chegaria a R$ 790 mil.

O conflito explodiu quando o prefeito Conde sancionou a lei do vereador Pedro Porfírio (PDT), que prevê a concessão de novas autonomias. A princípio, 1.219 delas foram liberadas, mas a lei foi embargada por uma ação judicial impetrada pelo próprio Sindicato dos Taxistas, que alega o inchaço do mercado. “Temos 19 mil taxistas no Rio, que já têm dificuldades de conseguir passageiros. Com as novas autonomias, teríamos 32 mil. Não há demanda para isso”, diz a presidente da entidade, Adriana Iório.

Mas, atrelados às empresas, os motoristas auxiliares não sofrem pouco. “Tinha que pagar todos os dias R$ 100 de diária e gastar R$ 45 de combustível”, reclama o motorista Helder Matiello, 43 anos. “Trabalhando 14 horas por dia, não me sobrava mais de R$ 500.” Com as diárias de apenas um motorista, um empresário pode comprar pelo menos quatro carros novos por ano. Outra acusação é a de que esses empresários são sonegadores. “As diárias são pagas em dinheiro vivo e eles não dão recibo”, afirma João Batista.