Depois de anos de negociação em torno de sua adesão ao Mercosul, o Chile anunciou a abertura de negociações para se integrar ao Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte) e apoiar a proposta dos EUA de antecipar de 2005 para 2003 a formação da Associação de Livre Comércio das Américas (Alca). A atitude decepcionou os diplomatas brasileiros, pois o Chile é vital à estratégia de expandir o Mercosul para toda a América do Sul e consolidá-lo de forma a negociar com certa autonomia frente aos EUA e à União Européia.

O Mercosul nunca foi ponto pacífico entre os chilenos. Seria uma oportunidade para setores não tradicionalmente exportadores, mas competitivos no contexto sul-americano, permitindo a diversificação das exportações com produtos de maior valor agregado e a sobrevivência de setores ameaçados pela concorrência dos EUA. Mas os exportadores mais bem-sucedidos – os de minérios, madeira, vinhos, frutas e pescado – sempre acreditaram que um compromisso com as políticas mais protecionistas do Mercosul só dificultaria o comércio com blocos mais poderosos.

O agravamento da crise na Argentina, prejudicando as perspectivas do nosso bloco, junto com a eleição de George W. Bush, favorável ao livre comércio, parece ter catalisado a decisão chilena. Mas o Congresso dos EUA vem insistindo em condicionar acordos de livre comércio à elevação de padrões trabalhistas e ambientais nos países parceiros, o que empresários e economistas chilenos consideram fatal à sua competitividade e decididamente não querem ouvir falar. Os republicanos tendem a ser menos exigentes nesses aspectos, mas sua posição no Congresso se enfraqueceu e a vitória marginal e contestada de Bush não lhe facilita impor seus pontos de vista. O Chile corre o risco de reviver a frustração de 1994: julgava-se igualmente próximo de ingressar no clube norte-americano e acabou dispensado.