O escritor cubano Leonardo Padura, destaque em Paraty na Flip, voltou para Havana na terça-feira 7 com a expectativa de saber como será, em 10 dias, a reabertura da embaixada americana em Cuba, marcada para 20 de julho. O ato vai oficializar a reaproximação entre os dois países, que estavam de relações cortadas desde 1961. Para ele, a reaproximação com os EUA será boa para Cuba, mesmo que o ato ainda seja proforma. O autor de best-seller “O Homem que Amava os Cachorros”, sobre o exílio e o assassinato de Trotski, passeou de barco por Paraty antes de estrear na Flip, no último dia da Festa Literária de Paraty. Na mesa que participou, ele contou que o ex-presidente Lula lhe disse ter se convertido em trotskista após ler seu romance. Padura falou de literatura policial. Seu famoso personagem Mario Conde, o detetive que virou livreiro em seus primeiros romances policiais, vai ganhar um seriado na televisão cubana, com roteiros escritos por ele. Na passagem por Paraty, Padura reencontrou o amigo Frei Betto, que também palestrou na cidade.

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Lá, eles conversaram sobre Cuba no coquetel na casa de Dom João Orleans e Bragança. “Será o encontro do Tsunami consumista americano com a austeridade cubana. Vai ser um choque”, opina Frei Betto, que lança em 10 de agosto em São Paulo o livro “Paraíso Perdido – Viagens ao Mundo Socialista”. A seguir, Padura fala a IstoÉ:

ISTOÉ – Como o senhor observa a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos?
Leonardo Padura –
Acredito que seja benéfico para Cuba. Creio que entre os dois países é muito melhor ter uma relação, senão por diálogo mas pelo menos por princípio. Que essa relação exista por um caráter diplomático, e que não exista mais esta tensão que durante tantos anos marcou a relação de Cuba com os Estados Unidos.

ISTOÉ – Como acredita que isso se construirá?
Padura –
De qualquer maneira, isso por princípio é um processo. Vai demorar um tempo para que se construa um relação verdadeiramente normal, por haver o tema do embargo como centro disso tudo.

ISTOÉ – Qual é o risco de Cuba ser americanizada?
Padura –
Eu não sei. Temos que esperar para ver o que acontecerá no futuro. Temos que aguardar para ver como se desenrola a normalização dessa relação. 

Foto: Bruno Poletti/Folhapress