A novela das eleições presidenciais americanas está em seus últimos capítulos, mas nem por isso provoca suspense. Já se imagina o final: o democrata Al Gore Jr. morre na praia. Na semana passada, os nove juízes da Suprema Corte adiaram uma decisão sobre a validade da recontagem manual de votos na Flórida e pediram melhores explicações sobre a sentença dada anteriormente pela Suprema Corte da Flórida. Naquele mesmo dia, terça-feira 5, o juiz Sanders Saul decidiu que não haveria mais recontagens nos condados de Miami e West Palm Beach. Um petardo que atingiu em cheio o encouraçado de advogados de Gore. Restavam três manobras desesperadas: apelar da sentença de Saul na Suprema Corte estadual e esperar que outras duas ações – movidas por partidários democratas, mas sem a adesão formal do candidato – conseguissem convencer juízes de instâncias menores a jogar no lixo cerca de 15 mil sufrágios de eleitores republicanos que preferiram votar pelo correio.

Até mesmo seus correligionários acreditavam que Gore precisaria de um grande milagre para ganhar esta parada. “A poeira está assentando no campo de duelo, e já se pode ver uma única figura em pé. Está parecendo que é George W. Bush”, disse a ISTOÉ o senador democrata por Nova Jersey Robert Torricelli.
Enfurnado em seu rancho no Texas, o governador George W. Bush deixava o recém-infartado e companheiro de chapa Dick Cheney cuidar do processo de transição entre as administrações. E o país, de um modo geral, já agia como se o 43º presidente dos Estados Unidos fosse mesmo Bush. Tanto que a liderança republicana no Congresso resolveu, desde já, cortar as asas de seus rivais democratas e negar qualquer compromisso de co-presidência de ambas as casas.

A composição do Senado está dividida salomonicamente, com 50 assentos para cada partido. “Os republicanos não só negaram a co-presidência como também estão avisando que não vão dividir igualmente com os democratas as comissões importantes”, disse a ISTOÉ o senador democrata por Nova York Charles Schumer. A linha-dura adotada faz parte do estilo da liderança republicana no Congresso, eleita na semana passada para atuar a partir da próxima sessão, a se iniciar em 3 de janeiro. Entre os escolhidos para cargos estão apenas os ultraconservadores como o líder da maioria no Senado, Trent Lott. “Já se vê que o tal slogan ‘conservadorismo compassivo’ adotado por Bush nas eleições não vai sobreviver além dos palanques. Bush se vendeu aos eleitores como um homem que unificaria os políticos em Washington, mas esqueceu de vender a mesma mercadoria a seu próprio partido”, disse o senador Schumer.

E, para os brasileiros, esse pode ser o sinal de que, assim como Al Gore, a idéia da Alca (a área de livre comércio entre as Américas) também pode morrer na praia. “Dificilmente a liderança democrata vai deixar que a Alca passe no Congresso. Seria suicídio político para as eleições de 2001, quando os votos dos grandes sindicatos podem levar o Partido Democrata à maioria na Câmara e no Senado”, analisou Schumer.


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