Um dos jornalistas mais criativos de sua geração, o carioca Sidney Garambone faz sua estréia literária com o lançamento do livro de contos O caçador de barangas (7Letras, 146 págs., R$ 20). Utilizando a mesma linguagem coloquial e ágil de seus textos jornalísticos, cultivada em anos de atividade em alguns dos principais cadernos de cultura do País, Garambone escreveu como se contasse histórias numa roda de amigos. O resultado é ótimo. Consegue ser ao mesmo tempo engraçado e inquietante, conciso e filosófico.

Entre os contos mais saborosos está o que dá nome à obra, sobre um sujeito que tem predileção pelas mulheres feias. “Todo sábado a mesma feira. E lá ia ele caçar barangas, bagulhos, dragões, sapirongas e estrufucunças. (…) Para um franco atirador qualquer, cantar mulher feia é molinho. Mas para Jorge, que se excitava com elas e achava que viera ao mundo com a missão de levar alegria às carentes de beleza, conquistá-las tinha lá seu mistério e dificuldade.” O livro é ambientado em várias cidades do mundo. A começar pelo Rio de Janeiro, onde Garambone foi resgatar o cenário de uma infância dos bons tempos, época em que os moleques podiam perambular pelas ruas da cidade, ainda não tão hostil, numa competição frenética para ver quem conseguia o maior número de doces no Dia de São Cosme e São Damião.

Seus personagens também vivem no México, Itália ou França em meio a dramas que têm sempre algo de cômico, mesmo que os protagonistas não percebam desta forma. É assim com o figurante de ópera que tem apenas oito segundos em cena para impressionar seu amor platônico. Ou com o pai que compete com o filho e o chefe para ver quem completa primeiro o álbum de figurinhas. Todos encantadores e patéticos, como boa parte dos seres humanos.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias