Preservados pelo anonimato dos classificados eróticos de uma revista, um homem e uma mulher decidem se encontrar, sem nunca terem se visto, e colocar em prática determinada fantasia sexual. Os dois aparentam estar na casa dos 40 anos. Exibem um tipo comum de beleza, mas, ao se conhecerem, desenvolvem certo brilho especial no rosto, gerando uma atração imediata que os leva ao hotel da esquina. Nenhuma palavra mais consistente é trocada. Deixaram apenas fixado um próximo encontro. Assim que se vêem novamente, há um indisfarçável clima erótico entre eles. No olhar, na maneira como ficam inquietos, e assim repetem uma rotina erótica semanal, sem falar nada de suas vidas, nem ao menos seus nomes. Até que uma paixão evidente, mas insegura da parte de cada um, chega acotovelando qualquer possibilidade de continuação do amor meramente carnal. A história tem um toque de ficção, é certo, mas muita gente deve ter vivido situação semelhante. Não à toa, o diretor Frédéric Fontayne, 32 anos, decidiu filmar Uma relação pornográfica (Une liaison pornographique, França, 1999), em cartaz no Rio de Janeiro e São Paulo.

Em temática e morosidade lembra os filmes da nouvelle vague, nos quais os personagens transbordavam erotismo, mas sempre estavam envoltos em tédio pesado. Quanto à estética, aproxima-se das fitas propositadamente mal acabadas da recente safra dinamarquesa. Apesar do título, nenhuma cena pornográfica explode na tela. Apenas um entre as supostas dezenas de encontros é registrado no mesmo quarto 118 do hotel, ainda assim sob lençóis. É um título apelativo, que pode ser interpretado como uma brincadeira do diretor. Uma brincadeira, aliás, em que Nathallie Baye (a mulher) e Sergi Lopez (o homem) interpretam com convicção e verdades cheias de mentiras de quem está diante de seus respectivos terapeutas.