Certos desconfortos vividos pelas mulheres, como secreção, coceira e odor na região genital, muitas vezes são tratados de forma equivocada. Parte desses casos são reações alérgicas, um assunto ainda pouco conhecido pela maioria dos ginecologistas. O alerta é da alergista Paula Morais, de Belo Horizonte. Ela é autora de um estudo feito durante dez anos com mais de 100 mulheres com diagnóstico de suposta candidíase (infecção causada pelo fungo Candida albicans). Ela constatou que 30% dos incômodos eram causados pela alergia a um microorganismo chamado ácaro vaginal. Outro dado curioso é que quase 1% dos problemas tinham sido provocados por reação ao sêmen.

O trabalho de Paula foi publicado na revista Annals of Allergy, Asthma & Immunology, dos Estados Unidos, em outubro. “Quando se fala em alergia, pensa-se primeiro nos olhos, na pele, no pulmão e no nariz. Nunca na vagina. Só que ela é um órgão como qualquer outro, sujeito a reações”, explica a alergista. O ginecologista Luís Fernando Aguiar, do Hospital das Clínicas de São Paulo, já conhece o problema. Por causa da alergia, a mulher passa a secretar mais líquidos, criando um ambiente favorável para a proliferação de germes oportunistas como o fungo que causa candidíase, constatou Aguiar. A reação alérgica é comum e que para descobri-la é importante checar minuciosamente o cotidiano da paciente. “Às vezes, uma mulher tem secreções e o médico pede vários exames, esquecendo-se de perguntar que tipo de calcinha ela usa”, conta o médico.

A roupa íntima é um dos vilões dos problemas alérgicos. De acordo com Paula, o ácaro vaginal prolifera devido ao uso contínuo de calças jeans e calcinhas de tecidos sintéticos e de cores fortes – os corantes empregados pelos fabricantes atraem os bichinhos. Os sintomas da doença são o desinteresse pelo sexo, coceiras, urticárias, dores de cabeça e descamações semelhantes às causadas por queimaduras de sol. O tratamento consiste em afastar a vítima dos fatores que provocam o problema e em aplicar uma vacina, que contém uma substância extraída do ácaro criado em laboratório.

A agente de saúde Ana Maria Costa Mendes se submeteu a esse tratamento para livrar-se de um tormento de nove anos. Ela sofria de inchaços, corrimento e coceira. Com diagnóstico de micose provocado pelo fungo Candida albicans, ela tomou vários medicamentos sem sucesso. Mudou de médico, mas também não teve êxito. Desesperada, comentou com amigas o desconforto e uma delas sugeriu que procurasse uma alergista. “As mulheres têm de deixar o preconceito de lado. Sofri muito tempo com essa doença, que poderia ser resolvida em alguns meses. Achava que meus problemas estavam relacionados à higiene”, confessa Ana Maria.

No caso da alergia ao sêmen, recomenda-se o uso de preservativos. Apesar do problema ser pouco frequente – o primeiro diagnóstico no Brasil foi dado em 1994 pela alergista Paula Morais – requer atenção. Depois de 18 meses sentindo dores, a estudante de medicina I.S.D., 22 anos, de Belo Horizonte, descobriu a causa do ardor, dos edemas e da vermelhidão na região genital. Durante um período, a universitária manteve relações sexuais sem usar camisinha. “Minha ginecologista me encaminhou a um alergista, que constatou que eu era alérgica ao sêmen”, conta.