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A advogada Roberta Batochio mora a uma hora do Palácio de Knossos, sítio arqueológico na Ilha de Creta onde teria existido o labirinto do Minotauro, segundo a mitologia grega. Roberta vive há um ano em Chânia e lá conheceu o noivo, o economista Lefteris Daflos, que tem uma consultoria financeira em Atenas. Com o agravamento da crise após o calote, a brasileira se vê dentro do labirinto grego, onde o Minotauro hoje se chama FMI. “Vi negócios fechando. Vejo o povo atordoado e confuso. Não sabe se confia na Alemanha ou no primeiro-ministro”, diz a advogada.

Como é estrangeira, as restrições aos saques bancários não lhe atingiram. No dia da medida, Roberta sacou 600 euros. “Bancos e caixas eletrônicos estrangeiros não têm limite de retirada até agora”, conta a brasileira, filha do ex-presidente da OAB, Roberto Batochio. Ter mais contas em bancos diferentes é uma saída.“Meu noivo tem duas. Pode retirar 120 euros. Está mais do que bom”.

Na véspera do calote, Roberta encontrou filas quilométricas nos postos de gasolina de Creta. Depois, voou para Atenas, onde as filas de aposentados nos bancos eram dramáticas. Na quarta-feira 1, cartazes colados por funcionários do governo nas ruas de Atenas pediam por “Oxi”, ou “não” em grego (foto) no plebiscito. Roberta vê no premiê Alexis Tsipras o empenho em manter a Grécia na Zona do Euro sem estrangular os aposentados. Mas o noivo votará pelo “Nai” (pronuncia-se Né), ou “sim” . “A Grécia precisa financiar sua economia e não há chance de fazer isso fora da UE”, diz Lefteris. “Não tem cabimento brincar. A Grécia tem de pagar. O governo está subestimando o conhecimento e a paciência da Comunidade Européia. Tsipras está dando um tiro no pé.” Eles se casam em outubro e mudam para Atenas. Mas morar no Brasil é uma possibilidade. “Ninguém sabe o que acontecerá”, diz Roberta, que, por enquanto, continua vivendo a uma hora do labirinto. E também dentro dele.