Amissão do governo brasileiro aos EUA trouxe algumas boas notícias, como a abertura do mercado para a exportação de proteína animal, a aceleração na concessão dos vistos, um bom acordo na área ambiental e o reconhecimento feito pelo presidente Barack Obama do papel do Brasil não apenas como potência regional, mas também global. Em resumo, houve o relançamento da relação bilateral, abalada desde o escândalo de espionagem da NSA, mas o que poderia ser a principal conquista da viagem – a atração de investidores para o programa de concessões em infraestrutura – não veio.

Não que tenha faltado empenho dos ministros liderados por Dilma Rousseff. O ponto é que as concessões esbarram num nó aparentemente intransponível. Qualquer empresário, do Brasil ou dos Estados Unidos, que esteja minimamente familiarizado com o noticiário daqui há de pensar: qual é a segurança para se investir num país onde os dois maiores empresários são presos antes mesmo de terem sido denunciados?

Não se discute aqui a culpa ou a inocência de Marcelo Odebrecht, dono da construtora que leva seu sobrenome, e de Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez. A Odebrecht, por exemplo, levou a concessão do Aeroporto do Galeão, ao lado da empresa Changi, que administra o melhor aeroporto do mundo, o de Cingapura, pagando R$ 19 bilhões, com ágio de 293,6% – algo curioso para um chefe de cartel. A Andrade levou Confins, com ágio de 66%, ao lado de empresas da Alemanha e da Suíça. Isso sem falar na UTC, que reformou Viracopos, em Campinas (SP), na OAS, hoje em recuperação judicial, que construiu o novo aeroporto internacional em Guarulhos (SP), e na Engevix que ergueu em tempo recorde o novo terminal de Brasília. Ou seja: todos que entraram no primeiro pacote de concessões e fizeram belíssimas obras terminaram presos.

Se isso não bastasse, já se anunciou que, em suas próximas fases, a Lava Jato avançará sobre obras do setor elétrico como Belo Monte e Angra 3. Ou seja: a construção, antes tida como um setor de vanguarda da economia brasileira, foi simplesmente aniquilada. As empresas brasileiras já foram rebaixadas por agências de risco e sua fragilidade, financeira e de imagem, será explorada por concorrentes internacionais. 

Por mais que a ânsia punitiva, que encarcera empresários por longos invernos antes mesmo dos julgamentos, seja comemorada por determinados setores da sociedade, a conta será paga pelas futuras gerações na forma de desemprego e desinvestimento. Infelizmente, a guerra política cegou a elite brasileira, que hoje assiste indiferente ao desmantelamento de suas principais empresas.