Doenças cardíacas, aids ou câncer. Qualquer um desses males grafado num receituário médico assusta. Os problemas do coração causam, em média, 300 mil óbitos por ano. Já os tumores vitimam 114 mil brasileiros anualmente. Desde a década de 80, 102 mil pessoas morreram contaminadas pelo vírus da aids. Mas, a medicina não dormiu no ponto. Esse trio de enfermidades está sendo muito estudado pela ciência, inclusive no Brasil.

A cada ano, os médicos conseguem tratar com mais eficácia as três doenças. No futuro, esperam-se resultados ainda melhores com o uso de novas drogas, com menos efeitos colaterais, e também de técnicas avançadas de tratamento. Tudo isso visa a um objetivo: o bem-estar do paciente. Boa parte das novidades não tem data prevista de lançamento. Mas algumas poderão ser desfrutadas em 2001.

Uma delas é a nova aplicação do remédio Lipitor, da Pfizer. Provou-se que, além de baixar o colesterol ruim, a droga pode prevenir um segundo infarto. Ela tem eficácia dias após a primeira parada cardíaca. “A substância atorvastatina, presente no medicamento, impede que as placas de gordura que entopem as artérias se rompam, evitando o próximo infarto”, garante Nabil Ghorayeb, cardiologista do Hospital do Coração, em São Paulo.

Bateria – Aguarda-se ainda a chegada do coração artificial, embora ainda não exista data marcada para seu lançamento. O aparelho é implantado no peito e recebe energia por meio de uma bateria presa na cintura do doente. O artefato prolongará por cerca de dois anos o tempo de vida dos portadores de insuficiência cardíaca terminal (incapacidade do coração de enviar o sangue para o corpo). Esses pacientes precisam aguardar por um transplante para se salvar. “Muitas vezes, eles morrem porque não aguentam esperar”, conta o cirurgião Enio Buffolo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Na opinião do médico Ghorayeb, as novidades só valem a pena se melhorarem a qualidade de vida do paciente. “Não adianta apenas aumentar a sua sobrevida”, reflete.

Esse é um argumento comum entre os especialistas em aids. Nos últimos anos, a maior luta contra a doença foi o aprimoramento dos remédios potentes contra o HIV, o vírus causador da doença, para que eles tenham o mesmo efeito com um número menor de doses e sem provocar consequências nocivas ao organismo. “Esses remédios geralmente provocam danos ao corpo, como perda excessiva de gordura”, afirma Artur Timerman, infectologista de São Paulo. Uma das drogas promissoras é o Tenofovir, do laboratório Gilead. A previsão de lançamento é para o final de 2001. O remédio inibe uma das enzimas usadas pelo HIV no seu processo de multiplicação. “Ainda não se sabe o motivo, mas as pesquisas mostram que o Tenofovir causa menos efeitos colaterais do que as outras drogas da mesma classe”, afirma Timerman. Mais uma vantagem é que o paciente tomará cerca de três pílulas por dia, enquanto a administração dos demais medicamentos de sua classe chega a seis. A droga Kaletra, da Abbott, lançada no final de 2000, também facilitará a vida dos soropositivos. O doente precisará consumi-la apenas duas vezes por dia. A droga impede a ação da protease, outra enzima envolvida na multiplicação do vírus. Há mais um recurso para diminuir a dosagem dos remédios: a associação de drogas. Quando se combina, por exemplo, o ritonavir e o indinavir (inibidores da protease), a ação contra o vírus é mais potente e com um número menor de cápsulas. “E obviamente os efeitos colaterais também diminuem”, afirma o infectologista Caio Rosenthal.

O próximo passo dos cientistas no combate à aids é descobrir o momento ideal de iniciar e interromper o tratamento. Isso dependeria do nível de carga do vírus no sangue do paciente. “Seria ótimo sabermos com certeza quando devemos suspender ou continuar o tratamento, pois isso evitaria os efeitos colaterais a longo prazo”, afirma David Uip, infectologista, de São Paulo.

A luta contra o câncer não podia ficar de fora nesse esforço para melhorar a vida dos doentes. “Hoje conhecemos melhor a ação do inimigo, o que nos permite combatê-lo de uma maneira mais específica e eficaz”, informa Antônio Buzaid, oncologista do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. Uma das armas a serem utilizadas nessa batalha é a droga STI-571, da Novartis, que será aprovada até o final de 2001. Ela agirá contra a leucemia mielóide crônica (tipo de câncer dos glóbulos brancos). A substância inibe uma enzima que faz o tumor crescer.

Alternativas – Quem sofre de câncer no intestino grosso terá mais uma opção de tratamento em 2001. Trata-se de uma injeção feita com o anticorpo denominado C225, do laboratório Imclone. A droga impedirá a ação da substância EGF, que estimula o crescimento de tumores. Essa droga está sendo estudada ainda para casos de câncer de pulmão. Contra esse mal, existe outra alternativa, que pode estar ao alcance dos pacientes também em 2001: o medicamento Iressa, da Astra Zêneca, também atua sobre a EGF e, assim, impede que o câncer evolua.

No campo das pesquisas, uma das frentes da medicina é um estudo, ainda em curso, que avalia o papel de uma proteína (HK2) encontrada no organismo quando o câncer de próstata (o segundo tumor com maior incidência no brasileiro) se manifesta. “Será desenvolvido um exame de sangue para identificá-la”, conta Miguel Srougi, professor de urologia da Unifesp. Por causa da precisão do futuro teste da HK2, o paciente não precisará mais fazer o incômodo exame de toque.

Para as mulheres, as novidades vão demorar mais a chegar. Nos próximos anos, o remédio Raloxifeno poderá ser usado para prevenir câncer de mama, o que mais atinge o sexo feminino no Brasil. A droga é indicada contra osteoporose (perda da densidade óssea). “Mas descobriu-se que o Raloxifeno também tem efeitos protetores contra o câncer de mama”, explica Gilberto Schwartsmann, professor de oncologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com tantos avanços, a medicina ajuda a dar esperanças a quem sofre de doenças cardíacas, aids ou câncer. Não entregar os pontos, especialmente nesses casos, é fundamental.