Não se criaram idéias novas nem programas muito diferentes. A grande transformação ocorreu no campo técnico. E aí o avanço foi notável. Sob o aspecto intelectual e criativo pouco mudou, ou melhor, pouco se criou. A tevê de alta definição, digital, não vai significar uma televisão mais inteligente. Essa estagnação intelectual da televisão brasileira sempre me preocupou. Na minha opinião a única saída em busca de uma televisão mais criativa, oxigenada e com novas propostas é uma grande abertura para a produção independente.

Nos Estados Unidos mais da metade da produção televisiva é realizada por produtoras independentes. Isto é: as produtoras criam as idéias e os roteiros, contratam os artistas e diretores, usam o seu próprio equipamento técnico e entregam para as emissoras o produto pronto e finalizado. As redes ou emissoras apenas encomendam os programas – previamente definidos por pesquisa –, vendem para os patrocinadores e pagam o seu custo para as produtoras. Fica para as emissoras a realização dos telejornais, a opinião editorial. O mesmo acontece na Europa e no Japão. É assim no Primeiro Mundo, é a televisão mais inteligente e criativa. Esse é o único caminho para democratizar e principalmente oxigenar, no futuro, a nossa programação, abrindo espaço para novas idéias, talentos, estilos e pensamentos. Abrindo, principalmente, o mercado de idéias.

No Brasil, a produção independente se iniciou junto com a nossa televisão. O próprio Silvio Santos começou como produtor independente até criar o SBT, que exibe poucos programas independentes brasileiros, ficando mais nas produções mexicanas. Existem muitos talentos que não estão participando da nossa tevê – os nossos cineastas, jovens que estão se formando em comunicação, jornalistas, gente que pode chegar com novas idéias e propostas de vanguarda.

Só existem vantagens para as emissoras aproveitarem todo esse grande manancial de talentos. Em primeiro lugar, o custo de produção é sempre menor. O controle de gastos de uma produtora independente é muito maior do que em qualquer grande emissora. Basta dizer que o Conexão internacional, por exemplo, era realizado por apenas quatro pessoas. Em segundo lugar, que é fundamental, a nossa televisão, que dentro de pouco tempo estará se mesclando com os computadores, ganharia um novo rosto com novas idéias produzidas em todas as regiões do Brasil. Estaríamos vivendo e nos identificando com o nosso país e a nossa cultura. Pela internet estaríamos mostrando o Brasil para o mundo inteiro.

Fica aqui uma idéia para os nossos deputados e senadores: se existisse uma lei – já que um canal de tevê é uma concessão pública – obrigando que 30% da programação das emissoras fosse realizada por produtoras independentes, o Brasil teria uma nova televisão. Cada emissora, em cada região brasileira, estaria abrindo seus transmissores para a produção independente local. Isso iria representar milhares de novas oportunidades de trabalho para gente que chegaria ao mercado da comunicação com novos programas. Na verdade, teríamos uma televisão brasileira muito melhor para os nossos 120 milhões de espectadores. Uma televisão mais participativa e democrática, muito mais criativa. 

Fernando Barbosa Lima é jornalista