Pontos positivos e negativos podem, ao mesmo tempo, ser destacados. Há o crescimento da participação de mercado do filme nacional, as parcerias que estão surgindo com os grandes estúdios estrangeiros, a entrada da tevê aberta na produção cinematográfica, a presença constante do cinema nacional em festivais internacionais, a variedade e a diversidade cultural da produção brasileira contemporânea e o fortalecimento de pólos de produção cinematográfica fora do eixo Rio–São Paulo. Por outro lado, há o gargalo da distribuição, as dificuldades de captação de recursos para as produções, a ausência de um modelo sólido de financiamento da atividade e a tímida presença de nossas produções no mercado internacional.

De nossa parte, desejamos apontar neste milênio que se inicia alguns momentos importantes de uma inegável trajetória de retomada do cinema brasileiro. Em maio tivemos uma das maiores participações do Brasil no Festival de Cannes: nada menos do que quatro filmes representaram o País na seleção oficial do evento de cinema mais importante do mundo. Ao longo de 2000, foi importante constatar que as quatro distribuidoras americanas aqui estabelecidas – Columbia, Warner, Fox e UIP, as famosas majors – incluíram filmes nacionais em suas carteiras de lançamentos. Isto mostra que o produto nacional volta a ter importância comercial para o principal agente do mercado cinematográfico, que é o distribuidor. Cabe ressaltar aqui o papel de defesa cultural representado por distribuidoras nacionais, particularmente a Riofilme, que, distribuindo mais de 80% da produção nacional atual, assegura a finalização e o lançamento de obras fundamentais para nossa cultura. No setor de exibição, o cenário tem sido marcado pela continuidade da expansão e renovação das salas de cinema. É particularmente feliz constatar também o crescimento de circuitos exibidores de filmes de arte e alternativos que está acontecendo em diversas cidades.

A retomada do cinema brasileiro tem atraído até mesmo aqueles agentes que, curiosamente, apesar de pertencerem ao setor audiovisual, nunca haviam se disposto a participar efetivamente da produção cinematográfica no Brasil. Referimo-nos à – ainda modesta, mas importante – presença da televisão aberta em co-produções cinematográficas, contribuindo sobretudo nas campanhas de lançamento, aumentando a competitividade do produto nacional e resgatando uma visibilidade que o cinema brasileiro já teve em seu próprio mercado.

Do ponto de vista estético, tudo indica que a variedade e a diversidade – de temas, gêneros, linguagens e abordagens – continuarão sendo as principais características da atual cinematografia brasileira, retratando uma cultura plural e ampla. Destacamos que, desde sua promulgação, a Lei do Audiovisual permitiu a estréia em longas-metragens de mais de 50 novos cineastas brasileiros.

Finalmente, no plano político, foi fundamental a criação do Grupo Executivo da Indústria Cinematográfica nomeado pelo próprio presidente da República. Este grupo tem o objetivo de formular políticas estruturais sólidas que permitam finalmente um desenvolvimento sustentado do cinema brasileiro. Pela primeira vez em muito tempo, o governo trata o cinema como indústria estratégica cuja importância econômica é inegável em um mundo que vive a proliferação das mídias audiovisuais e que é essencial para a formação de uma identidade cultural capaz de refletir e mostrar a cara de um país aos seus cidadãos e ao mundo. 

Andrucha Waddington, 30 anos, diretor e produtor,
e Leonardo M. de Barros, 38 anos, produtor, são sócios da Conspiração Filmes