Parece lógico para todos que, se voltarmos nossa atenção para medidas preventivas, evitaremos um maior número de doenças ou saberemos da sua existência em tempo hábil para tratá-las. Apesar disso, não adotamos ainda esta prática no nosso cotidiano. Na infância, nossas mães nos levam para tomar vacina e observam se estamos comendo bem e andando direito. E, quando chegam as férias escolares, elas nos encaminham ao dentista. Entretanto, com o passar dos anos, não continuamos o processo de prevenção. Em razão da falta de hábito e por culpa do próprio sistema de saúde e de nós mesmos, os médicos.

Na verdade, a maior parte da formação do médico é baseada na fisiologia. Ou seja, procuramos descobrir como tudo funciona em nosso organismo. Quando verificamos que algo não está bem, averiguamos as consequências dessa alteração e propomos uma medida reparadora. A preparação do profissional de medicina é focada na doença. Com algumas exceções, os sistemas de saúde, principalmente os convênios médicos, preferem cuidar dos doentes, e não da saúde. O que é preciso saber é que, embora estabelecer programas de prevenção implique um investimento inicial considerável, o retorno é certo.

Frequentemente somos informados a respeito da descoberta de algum gene envolvido em um determinado processo patológico. Por outro lado, recebemos a informação de que a variação do nosso humor, como o fato de rir menos ou sentir mais raiva, pode estar diretamente relacionada à maior probabilidade de desenvolver problemas cardíacos. Até aí, tudo bem. Mas também devemos estar sempre atentos aos marcadores (indicadores) de doenças cardiovasculares, como o nível de colesterol, conhecer os alimentos liberados, os proibidos e os que fazem bem. Devemos ainda ficar atentos à evolução do diagnóstico precoce do câncer.

Os que se sentiam seguros por praticar atividade física e fazer uma boa alimentação terão uma oportunidade para pensar um pouco em novos conceitos, rever o humor e o calendário de vacinações e prestar atenção no projeto genoma, sempre lembrando que parte dos nossos genes se encontra no álbum de fotografias da família.

A prática da prevenção deverá ser composta por medidas gerais (vacinação, por exemplo) atreladas a medidas específicas para grupos submetidos a diferentes fatores de risco. O mais interessante é que a análise de risco se inicia com uma checagem individual que adota recursos simples, mas eficazes, como uma boa conversa com o médico e um bom exame físico, aplicação de instrumentos de avaliação de qualidade de vida, depressão e adaptação ao stress. Eles serão associados à alta tecnologia, como a coronariotomografia – hoje praticamente o único exame de imagem em uso na medicina capaz de avaliar o processo de aterosclerose (depósito de gordura nas paredes das artérias) –, e a novos métodos de detecção de câncer. Hoje, observamos uma maior conscientização das pessoas e muitas delas já questionam os seus médicos a respeito das medidas de prevenção. E o melhor, estão aderindo mais a esses programas. Que neste ano essa adesão cresça ainda mais.

 

Fábio Nasri, geriatra e endocrinologista e professor
da Universidade Federal de São Paulo