Felizmente, no apagar das luzes de 2000, não há razão para sobressaltos e as perspectivas para 2001 até que são razoáveis. Se você conseguiu manter seu emprego este ano, pagou os atrasados com o 13º e ainda sobrou “algum” para os presentes das crianças, tem grande chance de repetir a façanha em 2001.

Na realidade, o primeiro ano do novo milênio não deverá ser muito diferente de 2000 em matéria de desempenho econômico, desde que tudo corra bem no front externo. As bolas de cristal dos economistas sugerem um crescimento entre 3% e 4% do PIB, que não chega a ser uma maravilha, mas já é bem melhor que o desempenho medíocre que tivemos de 1997 a 1999.

Alguns analistas deslumbrados chegaram a anunciar “o melhor Natal do Real” e dias maravilhosos pela frente. Foram mais influenciados pelo pensamento do Dr. Pangloss, aquele personagem irremediavelmente otimista criado por Voltaire, do que pelos dados da economia brasileira. Certamente ocorreram fatos positivos em 2000 que têm grande chance de prosseguir no futuro. O dragão inflacionário termina o ano bem comportado e assim deve permanecer em 2001, enquanto a indústria cresceu 7,3% de janeiro a outubro, uma marca importante, mas apenas o suficiente para ocupar a capacidade ociosa e recuperar o terreno perdido nestes anos todos de calmaria. Por isso mesmo, o desemprego fecha o ano num patamar elevado e assim continuará caso o crescimento de 2001 permaneça na casa dos 4%.

A maior frustração neste final de ano foi a dos comerciantes, que se prepararam para um estouro de vendas e mal conseguiram superar o faturamento do Natal do ano passado. O fato é que não está sobrando dinheiro no bolso dos brasileiros nem sobrará no ano que vem, pelo menos com o crédito apertado e juros altos que não estimulam novos investimentos.

Mas atenção. Para que esse panorama mediano se repita em 2001 é preciso que tudo corra bem no cenário externo. Não devemos esquecer da grande vulnerabilidade brasileira por causa do desequilíbrio das contas externas. Felizmente, o petróleo já atingiu um preço razoável de US$ 26 e parece estar sob controle. O que preocupa é o futuro da Argentina e, principalmente, o desempenho dos Estados Unidos. Este ano foi penoso para nossos principais parceiros do Mercosul, que andaram dançando tango com os pés amarrados. O empréstimo do FMI, prestes a sair, apenas dará uma sobrevida ao problema do câmbio fixo argentino.

Já o gigante americano está efetuando uma perigosa manobra de aterrissagem que pode se transformar em recessão, ainda mais nas mãos de um presidente novato como George Bush. Se o quadro não for revertido a tempo, haverá uma retração mundial que afetará a economia brasileira. Tudo depende do bom senso de Alan Greenspan, o dirigente do FED, o Banco Central americano, que bem poderia nos presentear com a redução do juro, para injetar novo ânimo na economia americana.

Pelo sim pelo não, convém confiar na sabedoria de Greenspan e festejar o reveillón apostando na hipótese mais otimista. Se der errado, pelo menos você vai enfrentar o ano de 2001 mais bem-humorado.

Guido Mantega é professor de Economia da FGV-SP