O destino sempre nos cobrou o cumprimento dessa promessa até aqui não realizada. Estranha e fascinante a latente vocação que acompanha este nosso país, após 500 anos de erros e acertos, de sobressaltos reincidentes na sua história política e social. Que sentimento é este que ainda sobrevive aos inúmeros percalços pelos quais atravessamos, voluntariamente construídos ou marcados pela fatalidade, todos a retardar nosso amadurecimento como nação, a obstruir o desenvolvimento da plenitude das nossas potencialidades, a afirmação da nossa identidade?

Não bastasse tal estigma, torna-se dominante hoje a crença num pensamento único, uma verdade absoluta e global, a cercear nossa imaginação, a calar a crítica, a abafar a diferença. Nossas virtudes têm que ser exaltadas e corrigidas as nossas idiossincrasias. Não será possível esse destino construindo-o sobre o terreno enganoso da exclusão, da miséria, da injustiça e da impunidade.

Com 40 anos de vida pública, ouso afirmar que não vivemos sequer uma democracia, seja de fato ou de direito. Indignação! Este deveria ser o combustível que nos levaria ao gesto redentor e definitivo da mudança, promovendo o crescimento, corrigindo nossas desigualdades, melhorando a distribuição da riqueza, prestando mais e melhores serviços à sociedade, aprimorando o lado gerencial e administrativo do Estado, acabando com os ralos da corrupção, corrigindo nossas mazelas com justiça social, fortalecendo a cidadania.

O “país do futuro” é a utopia que ajuda a conceber este projeto de civilização chamado Brasil. Concomitantemente, observo a materialização de um sentimento entre nós que repudia a hipótese de uma “maldição disfarçada”, algo que historicamente reforça e dá sobrevida ao “complexo de inferioridade” diagnosticado pelos nossos melhores críticos.

O grande desafio será convencer e resgatar para a cidadania, através de uma mudança revolucionária de costumes e atitudes, uma grande e desacreditada massa de cidadãos – sejam eles honrados cumpridores de seus deveres para com o Estado e a sociedade, sejam os omissos diante dos mais elementares deveres cívicos. Façam ou não parte das estatísticas, marginalizados ou camuflados no universo da informalidade, caberá às nossas classes dirigentes estimular o surgimento disto que poderíamos classificar como uma espécie de “metástase do bem”, que se dissemine pelo corpo da sociedade e a faça desejar, definitivamente, materializar o sonho do possível.

Há muito refletimos sobre este futuro que não chega. Sabemos que grande país poderíamos ser. Resta-nos conduzi-lo à concretização deste projeto de civilização que Darcy Ribeiro chamou de “povo brasileiro”. Dentre tantas e indispensáveis virtudes a serem exigidas nessa missão estão uma imensa paixão pelo Brasil, manter viva nossa capacidade de indignação diante de tantas injustiças e, sem querer ferir suscetibilidades, uma razoável porção de vergonha na cara.

Muito já foi dito sobre o fim da história, o fim das utopias. Que não me venham decretar o fim da esperança e do direito de sonhar. 

Pedro Simon é senador pelo PMDB/RS