Para mim, a grande novidade de tudo isto, mais do que nos resultados considerados em si mesmos, está no interesse que eles estão despertando na imprensa e na opinião pública. Isto sim é novo e deve ser saudado como um sinal promissor de mudança em nossa cultura cidadã.

A oscilação de algumas medidas está nos dizendo que não há soluções simples e fáceis neste campo. Implantar uma tendência irreversível na direção de um sistema de educação básica de qualidade é uma tarefa que exige, antes de mais nada, uma dramática elevação do capital social em torno do desafio educacional brasileiro.

Segundo James Coleman, um povo ostenta um nível de capital social elevado quando se mostra capaz de três coisas: (1) estabelecer objetivos de médio e longo prazos, uma vez que o imediatismo é um insaciável devorador de horizontes e perspectivas, (2) gerar e manter coesão social em torno destes objetivos e (3) manter constância de propósito na sua perseguição, não se deixando abater pelas dificuldades encontradas no caminho que leva à sua consecução.

O que vem ocorrendo no Brasil, desde a Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), Banco Mundial, Unesco e Unicef em Jomtien, Tailândia, é que a educação vem sendo um tema presente na agenda, não só do governo, mas dos diversos segmentos de nossa sociedade: mundo empresarial, mídia, trabalhadores e Terceiro Setor.

Este novo posicionamento do Estado e da sociedade brasileiros ao longo dos anos 90 expressa nossa reação ao fato de o Brasil ter sido considerado pela comunidade internacional, um dos grandes países que ainda não foram capazes de assegurar uma educação básica de qualidade para o conjunto de sua população infanto-juvenil. Figuram conosco neste bloco países como China, Índia, Paquistão, Bangladesh, Indonésia, Egito, Nigéria e México.

A partir daí, surgiu e vem se desenvolvendo no País um vigoroso movimento social, que visa levar da intenção à realidade o grande objetivo da Conferência de Jomtien: educação para todos. E isto tem sido feito implementando a estratégia traçada naquela ocasião para alcançar este objetivo: todos pela educação.

Tudo indica que não estamos diante de um modismo, mas de uma tendência, que pretende tornar-se irreversível, na direção de um sistema de ensino público e privado que seja capaz de oferecer de verdade uma educação de qualidade para todas as nossas crianças e adolescentes, sem exceção alguma.

Parafraseando a afirmação do brigadeiro Eduardo Gomes a respeito da liberdade, eu diria que o mesmo se passa com a educação básica: o preço da qualidade é a eterna vigilância. Por isso, é preciso saudar com entusiasmo a forma como a mídia vem lidando com os indicadores de desempenho de nossas escolas. Se formos capazes de perseverar neste caminho, nossa travessia para a qualidade haverá de chegar a bom termo.

Dizem os entendidos que o capital social, ao contrário do financeiro, quanto mais o gastamos, mais temos o nosso saldo aumentado. Se isto for verdade, temos tudo para dizer que o Brasil está no caminho certo, não está parado, mas ainda falta muito, muito mesmo, para termos o sistema de educação básica que a nossa realidade, de forma tão dramática, necessita e requer. Aos mais apressados, sempre é bom lembrar que esta é uma maratona e, não, como muitos pensam, uma corrida de 100 metros rasos. Que sejam bem-vindos o debate, a discussão e a polêmica! É disto que a nossa educação mais precisa para tornar-se, realmente, uma prioridade nacional.

 

 

 

Viviane Senna é presidente do Instituto Ayrton Senna