Não há no horizonte perspectivas de mudanças na atual política econômica que possam gerar aquele desenvolvimento que muitos brasileiros estão esperando para poder arranjar emprego ou melhorar suas condições de vida.

É verdade que a economia cresceu cerca de 4% em 2000 e uma parte do setor industrial começa a se recuperar. Isso é necessário, mas insuficiente. Com a dívida social que o Brasil tem, com o desemprego atual, com a violência aumentando nas cidades e no campo, o nosso país tem que crescer no mínimo 6% ao ano. Para isso, é preciso mudar o rumo da política econômica. Romper com o modo submisso como o Brasil vem sendo integrado à globalização neoliberal. Valorizar o mercado interno e enfrentar as restrições que os países mais ricos impõem à exportação dos nossos produtos. Defender e ampliar o Mercosul, em vez de aceitar a Alca nas condições impostas pelos Estados Unidos.

Em termos políticos, houve grandes avanços no ano 2000. Certamente a sociedade brasileira está mais consciente dos seus problemas e mais organizada para superá-los. A vitória das oposições nas eleições municipais de 2000, em especial o enorme crescimento do PT, já indica que grande parte do eleitorado está cansado e desiludido com as promessas nunca cumpridas das elites conservadoras, e quer mudanças para reerguer o País. Essas mudanças implicam resgatar a soberania nacional e recuperar a auto-estima do nosso povo, melhorando de fato as condições de vida da sociedade.

Do lado do governo, a situação não está boa e pode piorar em 2001. As disputas na sua base estão cada vez mais acirradas e prometem conflitos mais sérios, que podem chegar ao rompimento. Há uma briga de foice em função das eleições para a presidência da Câmara e do Senado e da sucessão dos governadores e do próprio presidente da República. Uma situação que já está paralisando o governo e pode se agravar.

Do lado das oposições, o que precisamos fazer em 2001 é trabalhar ainda mais para que os governos municipais e estaduais de todos os partidos comprometidos com a democracia e a melhoria de vida da população continuem provando que é possível administrar com competência, com mais transparência e com muito mais políticas sociais em benefício do povo. O combate à corrupção e a luta pela ética na política devem transformar-se em bandeiras permanentes não só do PT mas de toda a sociedade.

Devemos também apresentar novas propostas, melhorar as existentes e ampliar a nossa ação cidadã em 2001. O Instituto Cidadania, que lançou o Projeto Moradia em 2000, acaba de iniciar dois importantes projetos nacionais de políticas públicas que serão concluídos no próximo ano: “Fome Zero”, que contribuirá para o objetivo de que todo brasileiro faça no mínimo três refeições por dia, e “Segurança Pública”, voltado para enfrentar com profundidade o problema da violência e da criminalidade no País. São projetos suprapartidários, que se somam às contribuições e criatividade de diversos setores da sociedade brasileira, de domínio público, para serem aplicados por todos que lutam por um Brasil melhor.  

Luiz Inácio Lula da Silva é presidente de honra do PT
e conselheiro do Instituto Cidadania