Rebeldia, desejo de transformar o mundo e uma imensa disposição para questionar os valores estabelecidos sempre foram típicos do comportamento da juventude. Na chegada do século XXI, no entanto, essas características parecem inertes entre os jovens do Brasil. Em 1º de dezembro, ISTOÉ reuniu quatro jovens de 17 e 18 anos para conversar sobre vários temas e debater suas perspectivas de futuro. Os quatro têm histórias e poderes aquisitivos diferentes. Além do modo de vestir, o que há em comum entre eles é o fato de serem absolutamente individualistas e conservadores. “Tenho inveja da juventude dos anos 70 e 80, que se unia em torno de uma causa”, diz Natália Caruso Ribeiro, 17 anos. Ela está terminando o segundo ano do ensino médio no colégio Bandeirantes, um dos mais conceituados e caros de São Paulo. “O objetivo da juventude de hoje é apenas ganhar dinheiro. Todos querem ficar ricos e se dar bem na vida, sem se importar com os outros”, afirma Érica Ferreira Braga do Nascimento, 18 anos. Ela está terminando o último ano do ensino médio em uma escola pública no Rio de Janeiro e depende de organizações não-governamentais que trabalham na favela do Pereirão – onde mora – para fazer um curso pré-vestibular. “Na minha turma, cada um só pensa em si mesmo”, revela Diogo Adjuto Melo Silva, 17 anos, já aprovado no segundo ano do ensino médio do colégio Sigma, frequentado pelos filhos da elite de Brasília. “Na vida é cada um por si. Não sou de nenhuma religião e não participo de atividades sociais”, diz Adriano Costa Alves, 18 anos. Ele terminou o ensino médio em uma escola pública de São Paulo e está desempregado.

Natália, Érica, Diogo e Adriano têm um sonho imediato: conseguir uma vaga em uma universidade pública no final de 2001. Para Natália e Diogo, é uma questão de status e de busca de qualidade de ensino. Para Adriano e Érica, é uma questão de necessidade. Os quatro são favoráveis a um controle mais rígido das programações das tevês. Sobre drogas, há unânimidade. Não usam e são contra. Garantem, no entanto, que o acesso à cocaína e à maconha é facílimo. Eles criticam o governo de Fernando Henrique Cardoso e são pessimistas quanto às políticas públicas. Em 2002 esperam votar para presidente, mas não têm esperanças de que o Brasil melhore. Natália declara o voto em Lula, do PT. Os demais pensam em Ciro Gomes. A seguir, os principais trechos dos depoimentos dos quatro jovens a esta revista:

ISTOÉ – Falem um pouco sobre as suas ocupações e preocupações.
Natália – Estudo no Bandeirantes. Os professores são ótimos, bem preparados, mas a rotina é chata. O objetivo deles é colocar todo mundo em uma faculdade. Quero estudar ciências sociais na Universidade de São Paulo, porque é a melhor. Participo do grêmio e acho uma babaquice essas atividades sociais paternalistas de ficar distribuindo coisas aos pobres e ensinar as criancinhas. Isso não resolve os problemas sociais do Brasil, é apenas o caminho mais fácil. Me considero de esquerda. Meu nome é Natália em homenagem à mulher de Trotski.
Érica – Meu pai é motorista e minha mãe, dona-de-casa, mas faz bicos como vendedora para ajudar a levar dinheiro para casa. Penso fazer faculdade de ecologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Se tiver que pagar uma escola superior, não terei como. Não acho babaquice esse negócio de ajudar os pobres. Dependo de professores voluntários para meu curso pré-vestibular e para aprender inglês. Aposto nisso para poder entrar na faculdade.
Diogo – Adoro minha escola, os professores são ótimos e dedicados. Quero entrar na Universidade Nacional de Brasília e cursar engenharia de redes ou computação, porque são áreas com um ótimo mercado de trabalho. Não descarto a possibilidade de fazer um curso fora do Brasil. Nos finais de semana vou a festas, a boates e ao cinema.
Adriano – Sou criado por um tio e uma tia e estou procurando emprego. Gosto da escola pública, mas acho que ela não puxa o suficiente dos alunos, até porque os professores não são tão bem preparados. Quero cursar história na USP e meu sonho é ser professor em escola pública. Nos finais de semana gosto de paquerar.

ISTOÉ – Quais são as perspectivas do País?
Érica – O Brasil não será melhor. A violência hoje está muito grande. As drogas dominam a juventude. Falta educação e saúde. Então, não há como dizer que conseguiremos ter um país melhor. Os mais ricos também estão envolvidos com as drogas e pouco preocupados com a educação.
Adriano – O Brasil do futuro será pior. O jovem de hoje não mede as consequências. Não está preocupado com nada e não tem informações suficientes para fazer as coisas mudarem.
Diogo – Existe o problema com as drogas, mas minha geração tem liberdade e boas idéias. Podemos falar e ouvir o que quisermos e isso é fundamental para um país.
Natália – O jovem de hoje está alienado e muito preocupado com o individual. Se as pessoas continuarem com essa mentalidade, não há como progredir.

O BRASIL EM 2010

 

ISTOÉ – O que falta para o Brasil melhorar?
Natália – Eu invejo a geração que hoje tem 30, 40 anos. Ia para a rua e brigava. Fiz um debate no grêmio da escola e disse que a gente ia se filiar à União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). O pessoal riu da minha cara.
Diogo – O governo de FHC não impede as CPIs. E isso ajuda a melhorar o Brasil…
Natália – Mas o Fernando Henrique não tem nada a ver com isso. É a mídia que mostra esses escândalos.
Adriano – Falta mais educação mesmo. Países como Cingapura e Coréia do Sul eram piores que o Brasil nos anos 70 e começaram a investir em educação. Agora estão bem melhores que o Brasil.
Érica – O povo está acomodado, tendo pão e circo está tudo bem.
Diogo – O problema é o populismo, distribuição de lote, comida, roupa. Esses caras compram o voto das pessoas.
ISTOÉ – Vocês acham que o País de hoje é melhor do que o Brasil de 20 ou 30 anos atrás?
Diogo – Com certeza, estamos melhor. Temos liberdade.
Natália – Minha mãe tinha mais liberdade do que eu tenho. Acho que o Brasil era melhor. Não tinha violência. Ela brincava na rua à noite. Eu nunca brinquei na rua.
Érica – Tem coisas melhores para mim do que foram
para os meus pais.

EDUCAÇÃO

ISTOÉ – Falem sobre a escola pública e o ensino particular.
Adriano – A escola pública tem de melhorar. Professores, alunos e diretores são muito omissos…
Érica – Mas os professores não exigem muito porque os alunos são fracos e sem base. Os professores têm de trabalhar em vários empregos e muitos têm boa vontade.
Natália – A gente culpa os professores, mas eles não têm estímulo porque ganham muito pouco, não têm verba para comprar um livro, para estudar, fazer um curso.
Diogo – Mas eu acho que o maior interessado é o aluno. Depende muito do interesse de cada um.
Natália – O Estado esquece do valor que tem o professor, que influencia até a índole de cada aluno. Eu comecei a respeitar a escola este ano, antes achava muito chato estudar e agora percebo o valor disso.

ISTOÉ – O que pensam sobre a proposta de ensino pago na rede pública?
Diogo – Os colégios particulares são os melhores e as universidades públicas também. É um problema social.
Natália – Quem tem oportunidade de pagar uma taxa para estudar na USP deve pagar. Se temos de fazer algo para melhorar, devemos fazer. Eu recebi muito da sociedade, tive muita sorte na vida e agora tenho a obrigação de devolver o que a sociedade me deu. Meu pai me ensinou isso.
Adriano – Também acho que quem pode deveria pagar para estudar em universidades públicas.
Diogo – Eu também concordo, mas o pagamento da taxa não deve ser obrigatório.
Érica – Se ninguém ajudar, os ricos vão continuar ricos e os pobres vão continuar pobres. Rico tem mais acesso às coisas, mas o pobre tem de lutar. Só vou tentar faculdade pública porque meus pais não podem pagar uma particular.

ISTOÉ – Falem um pouco sobre a escola de vocês.
Natália – A minha escola é uma empresa. Somos um número, apenas. Falta relação entre professor e aluno. Um dia, uma diretora me disse: ‘Seu problema é que você tem opinião para tudo’, como se fosse um defeito meu. Eles não vêem que não adianta só jogar informação nas pessoas e nada mais. Só agora eles estão percebendo que não adianta formar robozinhos. Por outro lado, há uma boa estrutura e investimento em novos professores.
Diogo – Não tenho o que reclamar da minha escola. Há relação entre aluno e diretoria, há aproximação. Falta somente um pouco de espaço para debates e discussões. Faz falta uma formação mais completa.
Érica – Na minha escola, falta exigir mais dos alunos e pagar melhor os professores. Alguns, porém, mesmo ganhando mal, são muito empenhados.
Adriano – As pessoas têm uma idéia errada da escola pública. Acham que é lugar de lazer. Na escola pública, as coisas ficam meio impunes, os alunos não são muito exigidos. Nas particulares, há uma preocupação com o padrão de qualidade.

 

SEXO

ISTOÉ – Como é a questão sexual?
Adriano – Acho que cada um sabe o que faz. É normal transar. Não precisa ser com amor, pode ser sem sentimento. Nunca namorei sério. Já “peguei” (o mesmo que ficar, que significa ter encontros rápidos e sem compromisso sério) 70 minas. Quando falo, ninguém acredita, mas procuro levar testemunhas para não passar por mentiroso. Na minha agenda estão os nomes delas e das testemunhas. Está cheio de mulher galinha, mas o homem quer aquela que não é galinha, que é mais reservada, gosta de flores, é romântica. Há mulheres para casar e outras para ficar.
Érica – Se as pessoas se gostam, têm mais é que transar. Mas você tem de saber o que está fazendo, tem de se prevenir, ter responsabilidade. Só fico, nunca namorei sério. Já fiquei com uns dez garotos, mais ou menos.
Natália – Para sexo não devemos ter regras, cada um sabe sua hora. Mas para transar tem de ter confiança na pessoa. Não acho normal transar na primeira noite, mas cada um tem seu ponto de vista. Namoro firme há cinco meses e não gosto de ficar. Já namorei outro cara antes, durante um ano. Sou muito romântica e acho que fidelidade é fundamental.
Diogo – A igreja é contra transar antes do casamento, mas acho que não concordo. Você pode gostar da pessoa e morar com ela, sem casar. Mas sou contra transar antes de morar junto. Sexo tem de ter sentimento, não é normal transar na primeira noite. Nunca namorei, mas já fiquei. Ficar é uma coisa mais aberta, sem compromisso.

ISTOÉ – Em casa, vocês conversam sobre sexo abertamente?
Adriano – Não, nunca falamos sobre isso, que eu me lembre. O que sei aprendi na rua com os amigos.
Érica – Nunca. Meus pais são muito reservados. Nunca falei com eles sobre os garotos com quem fiquei. Acho que eles não aceitariam isso de jeito nenhum.
Natália – Conversamos direto sobre sexo. Levo meu namorado para casa sem o menor problema.
Diogo – Falamos muito pouco sobre isso. Não há resistência por parte de meus pais, mas essa conversa é muito difícil de acontecer.

 

ABORTO

ISTOÉ – Vocês são a favor do aborto?
Adriano – Sou contra. O feto não tem culpa do que acontece lá fora.
Érica – Também sou contra. Vai tirar a vida do seu próprio filho? Quando as pessoas fazem as coisas, devem se responsabilizar por seus atos.
Diogo – Não temos o direito de tirar vidas, nem mesmo em caso de estupro…
Érica – Estupro não… Para estupro, sou a favor do aborto.
Adriano – É tudo a mesma coisa. E o pessoal acha que vai nascer uma semente do mal só porque a criança nasceu de um estupro?
Natália – Sou a favor do aborto. Eu não faria, mas não condeno quem faz. A mulher rica vai abortar de qualquer jeito porque paga uma clínica cara. A que não tem dinheiro vai fazer aborto no açougue e morre. Mesmo proibido, vão continuar fazendo escondido, mas os que não têm condições vão sofrer as consequências. É melhor legalizar para todo mundo poder fazer.

ISTOÉ – E se a sua filha engravidasse de forma indesejada?
Adriano – Continuo contra, é uma vida de qualquer forma.
violência e drogas

ISTOÉ – Como é o convívio com a violência?
Érica – Antes tinha o Comando Vermelho no morro em que moro. Eu via garotos pequenos com armas maiores do que eles e estava acostumada com isso. Às vezes, eu não podia subir porque tinha tiroteio, mas mataram os traficantes e o Garotinho (governador Anthony Garotinho) começou a freqüentar a igreja de lá. Aí a coisa melhorou. Para mim era tudo normal, já estava acostumada. Uma vez vi uma moça baleada…
Adriano – Amigos meus já estão acostumados com o toque de recolher por causa dos traficantes…
Diogo – Meu irmão já foi assaltado e uma amiga minha foi sequestrada. Brasília não se compara com São Paulo e Rio de Janeiro, mas mudou muito: a violência aumentou por causa de pessoas que vêm de fora para receber lotes. Eles não conseguem emprego nem educação e, sem ter o que fazer, começam a roubar…
Adriano – Esse papo de que violência é coisa da periferia já era. Já fui assaltado num bairro de classe média. A violência está em todo lugar e o jeito é investir em educação. Na tua cidade tem gente rica que queima índio em ponto de ônibus…
Diogo – Há gangues de classe média formadas por filhinhos de papai que acham que podem fazer tudo. Mas isso depende da criação de cada um. Podem não ter boas relações com os pais ou ter caído nas drogas…
Adriano – Isso não depende da família. É desculpa que as pessoas arrumam. Se cada um pensasse na própria culpa, seria melhor. Toda população – não só os governantes – tem sua parcela de culpa. Ninguém pára para pensar que não pode jogar lixo na rua ou sonegar impostos.

ISTOÉ – Vocês acreditam que a pena de morte pode diminuir a violência?
Adriano – Acho que deveria existir pena de morte para crimes hediondos porque não adianta ficar preso e depois sair e continuar roubando, matando. Já os pais que roubam para sustentar os filhos, por exemplo, devem ter uma segunda chance.
Érica – Eu sou contra. Todos podem ter uma segunda chance. A cadeia não é lugar para ninguém. As pessoas vão para lá e pioram muito mais. Deveriam trabalhar e estudar mais na prisão.
Diogo – Sou contra e acho que cadeia não ajuda em nada. Em geral, é um lugar que tende até a piorar a situação da pessoa. Deveria ter centros de tratamento. A pena de morte não é a solução.
Natália – Pena de morte não tem sentido. A pessoa tirou a vida de alguém e a gente vai lá e paga com a mesma moeda? Não é assim que se resolvem as coisas. E cadeia é um absurdo…
Adriano – E se sua família fosse vítima de um crime hediondo?
Natália – O Estado não pode ter sentimento. Justificaria eu ir lá e matar o assassino, porque tenho sentimento pela minha família. Mas não é dever do Estado chegar lá e matar.
Adriano – Em alguns países – os que praticam o islamismo –, paga-se na mesma moeda, olho por olho, dente por dente… Lá, a violência é baixa porque intimida mais as pessoas que pensam em praticar crimes.
Natália – Então, a gente faz assim: proíbe as pessoas de sair de casa depois das seis da tarde que a violência acaba. Não é assim que se resolvem as coisas. Não podemos seguir o caminho mais fácil.
Érica – Pagar a violência com violência não resolve.
Diogo – Também acho.

ISTOÉ – O consumo de drogas tem a ver com a violência?
Diogo – Só relaciono as drogas a coisas ruins e à violência. Eu nunca usei nada, sou contra e acho que não quero experimentar. O acesso é muito fácil, não precisa ter dinheiro. É necessário um projeto de conscientização para mostrar às pessoas que aquilo não vai ajudar em nada, só causar o mal.
Natália – Já experimentei maconha. Não dá para falar que é ruim, mas não se pode perder os limites, deixar de fazer as coisas por causa disso. Pessoas ganham muito com a proibição das drogas. Quantos deputados e senadores estão ligados ao tráfico? Cigarro e álcool são piores que maconha. A droga poderia ser liberada com limitações, lugares certos para usar, como em Amsterdã (Holanda). A droga não serve para nada, mas não devemos ser hipócritas, fazer terrorismo dizendo que vicia usando apenas uma vez. Talvez se legalizassem, o controle fosse maior. Para quem quer usar hoje, o acesso é bem fácil.
Érica – Para tudo o que você vai fazer, deve pensar: o que isso vai me trazer de positivo e negativo? Nunca usei nenhuma droga e sou contra. Vivo no morro e sei muito bem o que as drogas fazem tanto para quem usa como para quem trafica.
Adriano – Vai da consciência de cada um. Nunca usei, mas já vi pessoas usando. Acho que deveria ter mais campanhas para tirar as drogas das escolas, mas proibir maconha, por exemplo, não dá, porque é até melhor que cigarro. Já as drogas pesadas devem ser proibidas mesmo.

 

 

TELEVISÃO

ISTOÉ – A censura deve existir?
Diogo – Sou a favor da censura. A tevê passa a violência como algo normal. Eu censuraria o Ratinho, por exemplo, sem o menor constrangimento.
Érica – Um dia, quando era mais nova, estava vendo um filme. O cara estava com receio de matar o outro e eu torcia para que ele matasse logo. A gente vê tanta gente se matando na tevê que acaba se acostumando com isso. Sou a favor da censura. A gente tem a cabeça formada, mas e quem não tem? E as crianças? Eu tiraria as cenas de sexo e violência dos horários em que crianças estão assistindo.
Adriano – Sou a favor de censurar tudo o que é prejudicial. A banheira do Gugu, por exemplo, deveria passar em horários em que crianças não assistem à tevê. Também cortaria boa parte do programa do Ratinho.
Natália – Sou a favor da censura. Eu censuraria a Carla Perez rebolando e colocaria certos programas depois da meia-noite. Por que as pessoas fumam? Porque o comercial mostra um cara bonitão no cavalo, fumando. Sexo é normal? É. Mas por que ser banalizado? Deveriam mostrar o sexo de forma educativa. O corpo da mulher não se limita a uma máquina de dar ibope.

ISTOÉ – A mídia interfere no comportamento de vocês?
Diogo – Claro. Você anda na rua com os vidros do carro fechados, as portas travadas, porque a tevê recomenda a gente a fazer isso. Passam as coisas como se fossem normais e a gente começa a achar que é normal mesmo e faz, sem pensar.
Érica – Influencia até na roupa que vamos usar.
Natália – Tento fugir dessa influência, mas a gente sempre a recebe, principalmente no lance do consumismo, quando, por exemplo, vê uma bolacha que parece deliciosa na tevê. Os publicitários são muito competentes e somos covardes diante dos desejos consumistas.

POLÍTICA

ISTOÉ – Que nota vocês dariam ao presidente da República?
Adriano – O presidente Fernando Henrique Cardoso está indo bem. Conseguiu acabar com a inflação, mas ainda tem muito o que fazer. Um ponto negativo são as privatizações, que causam desemprego por causa das demissões em massa. A saúde e a educação são pontos fundamentais que precisam melhorar. De zero a dez, eu daria nota sete para o presidente.
Érica – A inflação não está tão alta. Mas a saúde, o social, estão iguais e até piores do que antes. Espero que invistam mais no social. Dou nota quatro.
Diogo – Eu daria nota três. Esse governo está dirigido para a elite. Da classe média para baixo, ninguém teve benefício. A inflação pode ter diminuído, mas continua crescendo do mesmo jeito. Não espero nada de bom desse governo.
Natália – Dou nota zero. Voto no Lula para presidente e acabou.
Adriano – Por que o Lula não ganha?
Natália – O problema é que o povo quer um cara bonito, rico e que fale bem, não admitem que alguém da classe operária consiga governar o País. Quanto às privatizações, não sei se geraram menos emprego ou não. Mas é nossa comunicação, nossa luz, tudo nosso. Vai vender para os outros tirarem dinheiro daqui e levar para fora? É um absurdo.

ISTOÉ – Em quem você votaria para presidente se a eleição fosse hoje?
Natália – Lula
Diogo – Ciro Gomes
Érica – Ciro Gomes
Adriano – Ciro Gomes. Ele é aberto ao diálogo em todas as camadas, não tende para nenhum lado, nem direita nem esquerda. É mais de centro: absorve as idéias da direita e da esquerda.
Diogo – O pessoal gosta muito dele no Ceará, onde ele fez bons projetos e um governo positivo.

 

DIREITA E ESQUERDA
 

ISTOÉ – A esquerda resolve?
Natália – Sou esquerda, esquerda assumida mesmo. Está na hora de sair de cima do muro. Chega de ficar no muro. A gente precisa de alguém que seja a cara do povo, que não fale quatro línguas. Esse é o Lula, não importa que ele não tenha dez dedos, importa que é alguém que viaja pelo País, conhece esse país.
Adriano – Se ele ganhar, vai implantar o comunismo igual em Cuba.
Natália – (risos) E o comunista come criancinha e te obriga a dividir teu apartamento??? Isso é preconceito.
Adriano – E você acha que a esquerda é a solução?
Natália – A gente está falando de um partido de esquerda dentro de uma sociedade democrática.
Érica (para Adriano) – E o que você tem contra o comunismo?
Adriano – Esse negócio é totalmente maquiado. Falam de distribuição de justa de renda, não sei o quê…Pega os grandes massacres de camponeses cometidos pelo governo comunista na União Soviética… Já é um sistema falido. Tanto que os poucos países comunistas são os mais pobres do mundo: Albânia, Coréia do Norte…
Natália – Não podemos negar que em Cuba todos têm saúde e educação…
Adriano – E quantos jornais existem em Cuba?
Natália – É muito fácil Cuba não dar certo com o embargo econômico, ninguém vende nada pra Cuba, ninguém compra nada. Não teria como dar certo sozinho. Fidel errou, errou.
Adriano – O capitalismo é a melhor forma de governo. Todos os países mais desenvolvidos são capitalistas. Já está provado. O comunismo está falido…
Érica – E o capitalismo ganha tirando dos outros. Você não acha injusto?
Natália – Para falar mal do comunismo, precisa lembrar da União Soviética. Para falar mal do capitalismo, a gente atravessa a rua aqui e vai ver o que faz o capitalismo. 

Carlos Magno

Érica Braga do Nascimento
Com 18 anos, é a mais velha dos três filhos de um casal cearense radicado no Rio. Menina simples, é bem educada e protegida pelos pais. Vive e estuda na favela do Pereirão, em Laranjeiras, zona sul da cidade. Érica terminou o terceiro ano do ensino médio, mas ainda não se sente segura para prestar vestibular. Seu sonho é trabalhar com coisas ligadas à natureza. Adora o verde, os bichos, gosta de jogar vôlei, de ir à praia e frequenta o grupo jovem da igreja perto da sua casa. “Gostaria de melhorar de vida, ajudar meus pais, ter minha própria casa e dar uma boa condição para os meus futuros filhos”, diz a garota, que faz cursinho e inglês com voluntários que trabalham na favela.

Leopoldo Silva

Diogo Mello Silva
Tem 17 anos e é um típico filho da classe média de Brasília. Sua mãe é funcionária pública e o pai, comerciante. Aluno do segundo ano médio do colégio Sigma – um dos mais caros do Distrito Federal –, Diogo é daqueles alunos cê-dê-efes do tipo que já passou de ano no terceiro bimestre. Já quis ser advogado, mas hoje planeja algo mais moderno, como engenharia de redes. Entre seus planos não está ficar rico. Afirma que quer apenas manter o mesmo padrão de vida que tem atualmente. Estuda inglês e espanhol e frequenta uma academia de ginástica pelo menos três vezes por semana. Participa de grupos de jovens da Igreja Católica, pratica filantropia, é bom filho e bom aluno. Está contando os dias para fazer 18 anos e tirar a sonhada carteira de motorista.

Max G Pinto

Adriano Costa Alves
Tem 18 anos e não vacila em responder o que pretende fazer no futuro: ser professor de história em colégios públicos. Estudante de uma escola estadual da capital paulista, também faz curso técnico de informática numa instituição beneficente. Há dez anos, Adriano e um irmão mais novo são criados pelos tios porque seus pais morreram num acidente de carro. Ele está procurando emprego e, nos finais de semana, costuma sair para namorar. Também ajuda a organizar os torcedores do São Paulo Futebol Clube. Adriano é um dos membros da Torcida Jovem Independente. Ele é contra a legalização do aborto, a favor da pena de morte e acha que o País só vai melhorar quando investirem maciçamente na educação.

Hélcio Nagamine

Natália Caruso Ribeiro
Tem 17 anos e cursa o segundo ano do ensino médio no colégio Bandeirantes, uma das mais conceituadas e caras escolas de São Paulo. É filha única de uma fonoaudióloga e de um médico que, descontente com os salários no Brasil, foi viver nos Estados Unidos há cerca de dois anos. Na rotina de Natália estão as atividades do grêmio estudantil do colégio, o estudo para o vestibular e namoro. Faz também um curso de fotografia na Escola Panamericana de Arte e pretende estudar ciências sociais na Universidade de São Paulo. Natália acha que a sua geração é muito individualista, mas se considera uma exceção, já que se preocupa com os problemas sociais do País. Ela gosta de rock dos anos 70 e 80 e admite ter inveja da geração que se uniu e foi para as ruas lutar contra a ditadura.