Os inimigos políticos do prefeito do Rio de Janeiro, e eles são muitos, costumam dizer em tom irônico que Cesar Maia é um “mago das finanças”. Das próprias, é claro. E apontam para o fato de o alcaide ter construído um invejável patrimônio imobiliário desde 1976, quando era funcionário da Klabin. Foi naquela época que Cesar comprou seu primeiro imóvel, num condomínio da Barra da Tijuca, pelo qual declarou ter pago R$ 156.570. Hoje, 23 anos depois de haver ingressado na vida pública pelas mãos de Leonel Brizola, Cesar Maia mora num apartamento no exclusivíssimo edifício River Droite, um condomínio de alto luxo com imóveis de 400 a 600 metros quadrados, no bairro nobre de São Conrado. Cesar declarou à Receita Federal que pagou R$ 500 mil pelo apartamento em 1996. ISTOÉ apurou que dois apartamentos foram colocados à venda na semana passada no River Droite. O preço de um deles, no 11º andar, é de US$ 1,4 milhão (algo próximo aos R$ 4 milhões), enquanto pelo outro, no 1º andar, está sendo pedido US$ 1 milhão.

Segundo avalistas da Bolsa de Negócios Imobiliários do Rio de Janeiro ouvidos na semana passada por ISTOÉ, o valor médio do metro quadrado naquela região está entre R$ 4 mil e R$ 6 mil, de maneira que o apartamento do prefeito teria o valor mínimo de R$ 1,6 milhão. Outro imóvel de Cesar, no condomínio Praia Guinle, foi comprado, segundo ele, em 1997, por R$ 304 mil, mas vale, de acordo com corretores locais, entre R$ 800 mil e R$ 1,2 milhão. Ambos têm o IPTU mais caro da cidade, que chega a superar os das avenidas Vieira Souto, em Ipanema, e Delfim Moreira, no Leblon. São condomínios altamente sofisticados. O da Praia Guinle, por exemplo, tem como moradores o ministro Gilberto Gil e o ex-ministro Eduardo Jorge, entre outras personalidades empresariais e do mundo artístico.

“Se o prefeito administrasse as finanças da cidade como cuida de seu patrimônio, o Rio de Janeiro, com certeza, não enfrentaria nenhuma sorte de problemas graves, tais como esse que acabou determinando a intervenção federal em seus principais hospitais,” alfineta o ex-vereador Mário Del Rey (PMDB), hoje subsecretário de Assuntos Comunitários do Estado. Adversário implacável do prefeito, Del Rey chegou a pedir abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Câmara Municipal do Rio para investigar supostas irregularidades na administração de Cesar Maia. Não teve êxito, pois as alianças políticas do prefeito na Casa barraram todas essas iniciativas. Curiosamente, entre os maiores colaboradores de suas campanhas políticas estão os setores financeiro e imobiliário.

Manifestações – “Parece claro que o prefeito tem uma relação promíscua com o setor imobiliário da cidade”, afirma Del Rey, relembrando que o prefeito chegou a se unir a manifestantes contrários à construção do River Droite. O ex-vereador conta que Maia é hoje um homem “muito preocupado com o impacto urbanístico das construções. O prédio em que mora tem 17 andares, mas depois ele baixou decreto limitando o gabarito para nove andares nas novas construções da orla”.

Em 1993, Cesar Maia se uniu às manifestações promovidas pela Associação de Vôo Livre do Rio de Janeiro. Chegou a posar para fotos pilotando uma asa-delta e deu suas mãos aos manifestantes que envolveram o terreno num abraço. A obra, na avenida Prefeito Mendes de Morais, número 500, foi embargada pela Justiça em 1992, mas reiniciada em razão de uma liminar concedida à empresa construtora pela 4ª Vara de Fazenda Pública.

“O mais extraordinário nessa história foi o fato de Cesar Maia haver comprado o apartamento no mesmo prédio, com vista para o mar, no 6º andar, por um quarto do preço real. O prefeito até hoje não nos explicou como é que conseguiu tamanha pechincha imobiliária”, ironiza Del Rey. O ex-vereador fez um cálculo pelo qual o prefeito teria que trabalhar durante 18 anos e meio, economizando R$ 10 mil por mês, para comprar os seus imóveis. “Coisa que um servidor público dificilmente conseguiria…”, alfineta mais uma vez.

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Cesar Maia ingressou na vida pública em 1982 como assessor e depois secretário de Fazenda no primeiro governo Brizola. Em 1986 foi eleito deputado federal e, em 1992, prefeito do Rio. Em 1996, último ano do primeiro mandato como prefeito, Maia declarou patrimônio de R$ 889.896 à Receita Federal. Alegou ter adquirido naquele ano, parte através de financiamento, o apartamento do River Droite e uma sala comercial, na Barra da Tijuca, pela qual afirmou ter pago R$ 180 mil. Em 1997, após deixar a prefeitura, Cesar vendeu o apartamento que possuía no condomínio Novo Leblon, que disse ter custado R$ 156.570, e comprou o imóvel no Praia Guinle por R$ 304 mil. Em sua declaração de renda de 98, afirmou ter recebido doações da filha Daniela Dalila Ibarra de Maia nos valores de R$ 150 mil e R$ 210 mil. Foi através dessas doações que justificou a compra dos dois apartamentos. A Receita Federal pediu explicações sobre essas doações. Em sua declaração de 1999, Cesar apresentou ao Fisco rendimentos de apenas R$ 26,4 mil no ano anterior, dos quais R$ 24,9 mil procederam de sua aposentadoria como ex-deputado federal e R$ 1.520 da empresa Factóides&Factóides Promoções e Eventos Ltda., onde ganhou, por mês, pouco mais de R$ 2 mil, muito embora seu patrimônio declarado à época fosse de R$ 1 milhão. A empresa, com sede em Botafogo, foi aberta em 1997, depois que Maia deixou a prefeitura. Ele alegou que a Factóides&Factóides prestava consultoria econômica a mais de 30 empresas, tanto no Brasil como no Exterior, muito embora sua filha, que a dirige, não tenha formação na área.

Em julho do ano passado, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) divulgou a declaração de bens do então candidato à reeleição Cesar Maia. Desde que assumiu a municipalidade em janeiro de 2001, ele registrou um aumento em seu patrimônio de R$ 700 mil. O documento enviado pelo prefeito ao TRE em agosto de 2000 atestava bens no valor de R$ 1.043.568,82. Na última declaração, Cesar apresentou um patrimônio de R$ 1.703.572,03. O prefeito afirmou que os motivos para esse crescimento patrimonial se devem a aplicações em fundos de investimento, à participação no capital de uma empresa de comércio de roupas e à compra de uma sala comercial.


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