O Ministério Público e a Polícia Federal estão tentando decifrar os códigos “K U$” e “K” usados pelo lobista Alexandre Paes Santos sempre associados a números, nomes ou operações na agenda e bilhetes apreendidos por ordem judicial. No organograma que elaborou dos inimigos do banco Opportunity na guerra com a operadora canadense TIW pelo controle da Telemig Celular e Tele Norte Celular consta a anotação “200 K U$”. Mas o que mais chama a atenção dos que tentam desvendar os segredos do maior lobista de Brasília são os registros que acompanham nomes de deputados federais. No dia 8 de fevereiro deste ano, Alexandre Santos anotou “5 K” na frente do nome do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que forneceu ao lobista um crachá que o autoriza a circular livremente pela Câmara dos Deputados. No dia 15 de março, nova anotação de “5 K” referente a Faria de Sá, que se diz amigo de Alexandre, mas nega ter recebido dinheiro dele. Nesse mesmo registro aparecem outros seis deputados relacionados ao sugestivo código. São eles: Robson Tuma (PFL-SP) – “268 K”; Alexandre Santos (PSDB-RJ) – “5 K”; Zulaiê Cobra (PSDB-SP) – “4,5 K”; Sebastião Madeira – “50 K”; Carlos Mosconi (PSDB-MG) – “50 K”; e Luciano Pizzato (PFL-PR) – “10 K”. A desconfiança dos investigadores é de que K seja o mesmo que mil.

A área de interesse que liga o lobista ao deputado Luciano Pizzato é a investigação sobre a segurança e a importação de pneus na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara. Entre os clientes de Alexandre Paes Santos estão grandes fabricantes de pneus, que estão sob a mira de Pizzato. Arnaldo Faria de Sá também acompanha atentamente os debates sobre pneus na comissão. Os caminhos do lobista Alexandre e de Robson Tuma, o “Tuminha”, podem ter se cruzado na arena dos laboratórios farmacêuticos. Tuma foi um dos mais ativos integrantes da CPI dos Medicamentos e Alexandre defendia os interesses em Brasília do laboratório multinacional Novartis Biociências até ser envolvido nas denúncias contra o alto escalão do Ministério da Saúde.

A ligação com Sebastião Madeira é bem mais explícita. Médico, o deputado maranhense trabalhou ativamente no Congresso e com o ministro José Serra em favor da compra do Glivec, um eficiente remédio para o combate da leucemia. Foi a batalha em torno da aquisição do Glivec que detonou o escândalo com o lobista e a apreensão de sua agenda, fitas cassete e de vídeo. “Sou pobre e tenho uma vida limpa, mas reconheço que nesse caso as coincidências são realmente inacreditáveis”, afirma Sebastião Madeira, que teve reuniões e almoços com o lobista e pelo menos um encontro com o presidente do laboratório Novartis, Andréas Strakos, fabricante do Glivec. Mais: o PSDB contratou os serviços da APS Consultores de Alexandre por indicação de Madeira.