Pela primeira vez no Brasil, a obesidade mórbida – aquela que traz sérios riscos à saúde – será combatida por meio de um programa de governo. A iniciativa é da vereadora carioca Rosa Fernandes (PFL), autora de um projeto de lei sancionado na segunda-feira 22 pelo prefeito César Maia, do Rio. A prefeitura vai dar atendimento nos postos de saúde, criar espaços para a realização de cirurgia de redução de estômago nos hospitais municipais e oferecer tratamento pós-operatório. Dessa forma, pretende facilitar o acesso à operação, única forma de resolver o problema (com o estômago reduzido, a pessoa come menos e emagrece). A obesidade mórbida aflige muitos brasileiros (as estatísticas oscilam entre 500 mil e 1,5 milhão de pessoas), mas poucas instituições públicas estão capacitadas a fazer a cirurgia. No Rio, a fila de espera para a cirurgia chega a três mil pessoas. No Hospital São Paulo, na capital paulista, quem se inscreve hoje terá de esperar pelo menos cinco anos para ser operado.

A questão é tão grave que o deputado federal Roberto Jefferson, que passou pela cirurgia no ano passado e diminuiu o peso de 170 quilos para 94, procurou o ministro da Saúde, José Serra, para propor uma estratégia federal de combate ao problema. “O doente de baixa renda tem muita dificuldade para se tratar”, diz. O cirurgião Fábio Viegas, que faz a operação pelo SUS no Hospital do Andaraí (RJ), confirma o drama das pessoas que aguardam a vez. “Só podemos fazer uma cirurgia por semana. Nesse ritmo, nem até o fim da minha vida conseguirei operar todos os pacientes que estão na fila”, diz. O professor José Carlos Del Grande, chefe do setor que faz esse tipo de cirurgia no Hospital São Paulo, afirma que o índice de mortalidade durante a cirurgia é de 1,5%, enquanto na fila de espera esse índice sobe para 4,5%. “O ideal é ter uma política preventiva, para evitar que as pessoas cheguem a esse ponto”, defende.