Devagarinho, bem de mansinho, como é do estilo desse tucano paulista com alma e sangue de mineiro, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, 52 anos, pôs sua pré-candidatura à Presidência da República na pista e acionou a alavanca da decolagem a 18 meses da disputa pelo Palácio do Planalto. Para dar maior visibilidade a seu vôo inaugural, escolheu como rota os Estados Unidos – onde fez um périplo obrigatório para qualquer aspirante a presidente. Foi acompanhado de alguns de seus principais secretários e empresários paulistas, entre a quarta-feira 9 e o sábado 12. Mas decolagem, vôo e pouso foram atrapalhados por turbulências violentas no campo interno, como as rebeliões da Febem e a amarga derrota do candidato do governador, o deputado Edson Aparecido (PSDB), na eleição para a presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo, vencida pelo pefelista Rodrigo Garcia, com apoio do PT. “Fazer a América” é uma missão árdua, como bem o sabem os imigrantes que chegam aos Estados Unidos para impulsionar suas vidas. Alckmin sentiu o tranco de tentar dar o upgrade à sua vida política começando pela América de George W. Bush.

Ao expor-se como o principal nome do PSDB para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro de 2006, o governador paulista está obedecendo ao calendário político. Enquanto ele embarcava na semana passada para Washington, Nova York e Miami, a adversária petista Marta Suplicy desembarcava em São Paulo, após um descanso de 40 dias na Europa, disparando farpas na direção de Alckmin, tentando alavancar a sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes. O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, reforçou o ataque petista ao tucano ao afirmar que seu governo gasta muito. Em solo americano, a reação do tucano foi um sorriso matreiro e o comentário: “Tá preocupado, né?” No máximo se permitiu dizer que “não tem medo de cara feia”. Católico fervoroso, Alckmin se apega a Santo Antônio de Pádua para analisar o governo Lula, com quem sonha disputar em 2006: “Aprendi com ele que, quando não dá para falar bem, é melhor não falar nada.”

Tímido, ele é o oposto de seu padrinho político, de quem foi vice, o governador Mário Covas (PSDB), morto em março de 2001. Com seu sangue quente de espanhol, Covas apimentava o debate político e fazia a festa dos jornalistas: não deixava um ataque sem resposta. Alckmin – que já foi apelidado de picolé de chuchu – não entra em bola dividida e encarna o papel de bom moço. Uma imagem que tem um lado ruim para quem quer se destacar na selva política, já que a duras penas ganha visibilidade. Mas tem seus aspectos positivos, já que também não chama a atenção para o negativo: Alckmin não sofre do mal da rejeição e sobre ele não pesam denúncias. No início de seu mandato a aura de bonzinho preocupava seus aliados por passar a impressão de fraqueza, o que seria mortal para um governante. Mas Alckmin aos poucos foi mostrando firmeza. Fez isso ao agir com mão-de-ferro na espinhosa pasta da Segurança Pública, que continua sendo seu calcanhar-de-aquiles com seus altos índices de assaltos e sequestros, juntamente com os intermináveis problemas da Febem.

Mas em seus primeiros passos na disputa presidencial, Alckmin demonstra que, apesar de ser de Pindamonhangaba, é mais mineiro do que seu colega Aécio Neves (PSDB), governador de Minas, outro nome cotado para o Planalto. No páreo interno, há ainda o prefeito de São Paulo, José Serra, o presidenciável mais bem posicionado nas pesquisas para concorrer com Lula. É claro que todas as fichas tucanas dependem da decisão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.