Um vez de Paris, o destino preferido de turistas do mundo todo, Copacabana Palace, o hotel mais chique do Rio de Janeiro, endereço habitual de gente famosa como Sting e Mick Jagger. Em vez do Giorgio Armani da Place Vêndome, o Giorgio Armani da Bela Cintra. As roupas são as mesmas de lá. O piso da loja é igualzinho, feito com as pedras francesas que recobrem o piso da loja de Paris e, pasmem, o Museu do Louvre. O preço? Com o dólar em disparada e o medo de avião e de atos terroristas disseminado (ou, pior ainda, atos terroristas dentro do avião), o preço daqui compensa. Sabe-se lá quanto virá no extrato em dólar do cartão, depois de um mês fora do País. Em Nova York, segunda-feira 22, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse numa palestra que acredita que o dólar ainda cairá. Ele esqueceu de dizer “com a ajuda de Deus”.

Para os brasileiros que, com pouco ou muito dinheiro, costumam seguir para o Exterior no final do ano e cometer pequenos (e grandes) desatinos com o cartão de crédito, a previsão otimista de Fraga não é suficiente para demovê-los da decisão de ficar por aqui. No mínimo porque tem muita coisa no ar e no solo ameaçando sua segurança fora de casa. Aqui, em compensação, o setor de serviços e o comércio estão se desdobrando em mimos, descontos, bônus e facilidades de pagamento para atrair o consumidor para o seu negócio. Em 11 anos como relações-públicas do Copacabana Palace, Cláudia Fialho vê, em 2001, a estréia do cinco-estrelas na seara do popular “pacote”, lançado em São Paulo, em setembro. Não se trata de um pacotinho ao alcance de muitos. Os preços variam de R$ 5 mil para o casal, por cinco dias, a R$ 17 mil, com a melhor vista das janelas. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: há apartamentos de luxo com vista para a avenida Atlântica por R$ 8.120. Tudo sem café da manhã. O desconto é de 30% sobre as tarifas normais. A promoção inclui pacotes para noite de núpcias, lua-de-mel e réveillon (que ainda tem apartamentos disponíveis).

Sempre lamentando o horror terrorista e suas graves consequências mundiais, Patrícia Gaia, diretora-geral do grupo Armani no Brasil, atribui o “impressionante” aquecimento nas vendas nas três primeiras semanas de outubro – 60% em relação ao mesmo período do ano passado – à desistência de seus clientes de viajar para o Exterior. Eles serão recompensados por isso: em novembro, em parceria com o American Express, poderão pagar suas compras em cinco vezes sem juros. É bom lembrar que uma das peças Armani mais baratas,a gravata, custa R$ 195 – com direito ao autêntico café expresso e a um brinde com o italiano pro secco, vinho branco, seco e leve, uma delícia.

Ricardo Minelli, diretor da não menos luxuosa Daslu Homem, também observa que seus clientes estão, neste momento, trocando as compras em Nova York, Paris e Milão por lojas que vendem grifes estrangeiras de luxo pelo mesmo preço em dólar. “Outubro superou as nossas expectativas e estamos prevendo um Natal muito bom”, diz ele. Tudo é muito caro para a maioria dos brasileiros, mas o dinheiro não impede que também os consumidores de alta renda recorram ao prosaico cheque pré-datado, que garante o dia-a-dia de muita gente que nem sabe o que é Daslu. Só que o parcelamento na Daslu vem com serviço de manobrista, de alfaiataria sob medida e até a possibilidade de que a loja leve um guarda-roupas à casa do cliente para que ele escolha sem nenhum stress. É chique ou não é? A Daslu Homem é um pedacinho da Quinta Avenida de Nova York na Vila Nova Conceição, em São Paulo: tem mais de 50 grifes, algumas delas sagradas para o high society, como Ermenegildo Zegna, Gucci, Prada, Donna Karan…

Não imagine que só os ricos estão sendo paparicados. Gerentes de grifes que vendem como água para a classe média, como a Richards, estão telefonando a seus clientes mais fiéis para convidá-los a ir a uma das lojas da rede para ver (e comprar) a coleção de verão. Tudo parcelado em cheques ou no cartão. Shopping centers inteiros, como o Morumbi, que apresentou um crescimento real de 8% nas vendas em setembro e outubro sobre julho e agosto deste ano sem nenhuma promoção especial no período (a justificativa também recorre ao fato de as pessoas deixarem de viajar e estarem consumindo mais na própria cidade), oferecem novos serviços para atender melhor o cliente. O Morumbi criou um estacionamento com manobristas para deficientes físicos, acessos especiais para facilitar a locomoção e um serviço de empréstimo de cadeiras de roda. Quem preferir visitar o MorumbiShopping sem se preocupar com o estacionamento, pode contar com o serviço de ônibus que circula por todos os bairros da região. Mais serviços: o ateliê que ensina a fazer velas decorativas, um centro ecumênico para reflexão, cartão pré-pago do estacionamento (para evitar filas e ganhar desconto de 10%) e um site de moda com dicas.

Ivo Pereira, o principal representante da Nikon no Brasil, diz que percebe em conversas com lojistas de shopping centers que as vendas estão aceleradas, o que permite deduzir que aquela máquina fotográfica que o consumidor pretendia comprar no freeshop, em dólar, está sendo parcelada em reais.

A poderosa indústria automobilística reduziu juros de financiamento e negocia bônus. Por telefone, o consumidor que procura a Renault para comprar um Scénic zero recebe a informação de que tem direito a um bônus que reduz o preço de R$ 37.500 para R$ 33.900 e financiamento em 24 meses com juros mensais de 0,99% (a taxa de banco é de 2,75%). A Peugeot oferece bônus entre R$ 500 e R$ 7.500. Para a linha Focus, a Ford garante um desconto de R$ 5 mil. E a GM está vendendo todos os modelos em 12 vezes, sem juros. A crise faz milagres.